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Sala de Imprensa

24/02/2021

Defesa de tese

Título: TRAJETÓRIA DA FUNÇÃO PULMONAR DA ADOLESCÊNCIA AO INÍCIO DA VIDA ADULTA E FATORES ASSOCIADOS: evidências da coorte de nascimentos de 1993, Pelotas, Brasil

Banca: Ana Menezes, Silvia Macedo e  Frederico Leon Arrabal Fernandes (USP)

Orientador: Fernando Whermeister

“Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento de trajetórias desfavoráveis de função pulmonar da adolescência até a idade adulta, muitos dos quais podem ser modificados se agirmos de forma preventiva”.

 

A nossa capacidade de respirar de forma efetiva pode ser determinada pela exposição a diversos fatores desde o nascimento até a idade adulta. Ou seja, a função que nossos pulmões desempenham, à medida que eles se desenvolvem, pode seguir trajetórias mais ou menos favoráveis, dependendo das condições socioeconômicas, hereditárias, de saúde, doença e de hábitos adquiridos ao longo do tempo. O comprometimento das vias aéreas, como o chiado no peito (sibilo), e a exposição ao fumo, por exemplo, correspondem a alguns dos fatores de risco que reduzem a função dos pulmões numa idade em que esses deveriam atingir seu desempenho máximo.

Nesse ponto, é importante salientar que os indivíduos que não atingem esses valores ideias na idade adulta jovem, têm risco aumentado para desenvolver diversas comorbidades crônicas, como doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica e diabetes. Assim, uma função pulmonar baixa se apresenta como um importante marcador de mortalidade prematura nos dias atuais, sendo considerada, portanto, questão importante de saúde pública.

Priscila Weber, sob orientação de Fernando C. Wehrmeister e Paula Duarte de Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas e em colaboração com pesquisadores internacionais e da instituição, desenvolveu um estudo sobre os determinantes que influenciam diferentes trajetórias de função pulmonar. Esse estudo procurou esclarecer ainda como o comportamento de alguns fatores de risco ao longo dos anos resultam na redução dos volumes e capacidades pulmonares na idade adulta. Com dados da coorte de nascimentos de 1993 de Pelotas, estudo que vem acompanhando os pelotenses nascidos no referido ano, os pesquisadores avaliaram a função pulmonar dos participantes aos 15, 18 e 22 anos de idade. Além disso, desde o nascimento até a idade adulta, foram coletadas diversas informações sobre saúde, hábitos e condições de vida desses indivíduos.

Assim, tornou-se possível traçar as trajetórias de função pulmonar e caracterizá-las sob todos os aspectos avaliados. Os pesquisadores concluíram que os indivíduos que pertenciam às trajetórias mais baixas de função pulmonar, apresentavam menor peso ao nascer, tinham mães com menor índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional, eram fumantes aos 18 e 22 anos, foram expostos ao fumo materno na gestação, apresentaram frequentes hospitalizações por queixa respiratória na infância, diagnóstico de asma, alergia, sinais de chiado no peito (sibilo) e pais que também eram asmáticos. Uma trajetória de função pulmonar mais alta esteve relacionada à maior renda familiar.

Em um segundo momento, foram analisadas trajetórias de fatores de risco, como chiado no peito, sintoma respiratório importante que indica bloqueio parcial das vias aéreas, e exposição ao fumo ao longo dos anos, bem como o impacto dessas trajetórias sobre a função pulmonar dos indivíduos na idade adulta.

Foi observado que aqueles que continuamente (dos 4 aos 22 anos de idade) reportaram chiado no peito, apresentaram pior função pulmonar e maior risco de desenvolver doença asmática quando adultos. Além disso, os indivíduos cujos pais eram asmáticos e/ou alérgicos apresentaram maiores chances de seguir essa trajetória contínua de exposição.

Apesar da redução significativa do uso do tabaco nas últimas décadas no Brasil, o tabagismo permanece como um dos principais fatores de risco modificáveis para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), estando igualmente relacionado ao câncer de pulmão, doença cardíaca, acidente vascular cerebral e mortalidade por todas as causas. No estudo desenvolvido, independentemente do momento da exposição, foi observado um efeito negativo do tabagismo sobre a função pulmonar desempenhada pelos indivíduos. Tanto aqueles que foram expostos somente ao fumo da mãe na gestação, quanto aqueles que foram constantemente expostos até a idade adulta sofreram danos significativos à sua função pulmonar quando comparados aos indivíduos que não foram expostos. Uma maior obstrução à passagem de ar, no entanto, foi avaliada naqueles que, além da exposição intrauterina, eram fumantes aos 18 e 22 anos, o que sugere que esses indivíduos possam vir a ter mais chances de desenvolver doenças respiratórias e sistêmicas futuramente. Assim, para garantir que mais indivíduos atinjam os valores máximos de função pulmonar na idade adulta, políticas de cessação do tabagismo devem ser incentivadas em todas as fases do desenvolvimento pulmonar.

            A partir dos resultados desses estudos, os pesquisadores envolvidos reforçam a importância de atentar para os fatores de risco modificáveis ao longo da vida, os quais determinam que os indivíduos a eles expostos apresentem trajetórias desfavoráveis de função pulmonar da adolescência à idade adulta. Esse período é considerado fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento e alcance da função pulmonar máxima, a qual, por sua vez, é reconhecidamente preditora de saúde e longevidade.

 

 


Online - DATA:24/02/2021 - HORA:14:00hs

Apresentador: Priscila Weber





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Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas