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Sala de Imprensa

07/02/2018

Amamentação pode reduzir efeito de gene ligado à obesidade, aponta estudo

Foto: Leandro Cesar Santana

 

A amamentação na infância pode reduzir o efeito de um dos principais genes associados à ocorrência de sobrepeso e obesidade. É o que mostra um estudo que acompanhou mais de 3,4 mil recém-nascidos ao longo de trinta anos, publicado hoje (7) na revista Scientific Reports.

A pesquisa investigou a associação entre duração do aleitamento materno na infância e composição corporal de adultos, em grupos com diferente predisposição genética para o sobrepeso e a obesidade com base na presença de variantes do gene FTO.

“Estudos prévios sobre aleitamento e modulação do gene FTO se restringiram a crianças e adolescentes. Nosso estudo é o primeiro a verificar o efeito dessa interação até a idade adulta com base em uma série de parâmetros de composição corporal”, comenta o autor principal da pesquisa, Bernardo Lessa Horta, da Universidade Federal de Pelotas.

O grupo de pesquisa liderado por Horta analisou dados do estudo longitudinal iniciado com aproximadamente seis mil bebês nascidos na cidade de Pelotas (RS) em 1982. Informações sobre o tempo de amamentação foram obtidas em entrevistas com as mães nos primeiros anos de vida das crianças. Aos 30 anos de idade, 3,4 mil participantes realizaram uma série de exames de avaliação da composição corporal. Foram coletadas dados sobre Índice de Massa Corporal (IMC), circunferência da cintura, Índice de Massa Muscular, Índice de Massa Gorda e espessuras de gordura abdominal visceral e gordura abdominal subcutânea. A partir da coleta de amostras de sangue, a análise de DNA dos participantes permitiu identificar a presença de variantes do gene FTO comprovadamente ligadas ao sobrepeso e à obesidade.

Os pesquisadores avaliaram o efeito das variantes genéticas sobre a composição corporal em dois grupos de acordo com a duração do aleitamento materno: pessoas que tinham sido amamentadas por menos de um mês e pessoas que tinham sido amamentadas por um mês ou mais.

As evidências apontam que a amamentação pode modular a ação do gene FTO, reduzindo os efeitos da predisposição genética a obesidade.

Entre as pessoas que receberam pouco ou nenhum leite materno na infância, os portadores das variantes obesogênicas apresentaram maiores taxas de obesidade e valores aumentados para todos os indicadores de composição corporal, em comparação com os portadores da versão não-obesogênica.

Em pessoas que foram amamentadas por mais tempo, o efeito da predisposição genética teve sua magnitude reduzida, comparando portadores das versões obesogênicas com os da versão não-obesogência.

Para se ter uma ideia, em crianças amamentadas por menos de um mês, o grupo que tinha a maior predisposição genética ao ganho de peso teve, em média, aumento de 33% na prevalência de obesidade, 2,5 kg/m2 a mais no IMC e circunferência da cintura 5,6 cm maior. Em crianças amamentadas por um mês ou mais, a maior predisposição genética representou, para os mesmos indicadores, aumento de 11% na prevalência de obesidade, 1 kg/m2 a mais no IMC e circunferência da cintura 2 cm maior.

De acordo com Horta, “Uma das possíveis explicações para que a amamentação possa programar a adiposidade na vida adulta é a de que ela modera a ação da variante obesogênica sobre a sensação de saciedade e a ingestão de alimentos”.

“É importante ressaltar que a obesidade é influenciada por fatores genéticos e não-genéticos, como dieta e prática de atividades físicas. Portanto, nosso estudo não sugere que portadores da versão obesogênica do gene FTO não amamentados na infância serão, necessariamente, obesos, bem como não sugere que os que foram amamentados por bastante tempo não têm risco de se tornarem obesos”, conclui o pesquisador. 

 

Artigo: Breastfeeding moderates FTO related adiposity: a birth cohort study with 30 years of follow-up

Bernardo Lessa Horta, Cesar G. Victora, Giovanny V. A. França, Fernando P. Hartwig, Ken K. Ong, Emanuella de Lucia. Rolfe, Elma I. S. Magalhães, Natalia P. Lima & Fernando C. Barros 

•    Scientific Reports volume 8, Article number: 2530 (2018)
•    doi:10.1038/s41598-018-20939-4
https://www.nature.com/articles/s41598-018-20939-4

 




Fonte: Assessoria de Imprensa





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