Cada vez mais tem se reconhecido a importância do sono e dos ritmos biológicos para a manutenção da saúde e prevenção de doenças. A duração do sono tem sido estudada como um fator essencial que pode estar envolvido em questões de ordem física, mental e comportamental. Evidências sugerem que o sono de curta duração é fator de risco para o sobrepeso e obesidade. No entanto, poucos estudos avaliaram seus efeitos sobre a composição corporal na infância, incluindo tecido adiposo e massa magra. Alguns estudos sugeriram ainda que a menor duração do sono estaria relacionada a menor crescimento linear, contudo a literatura sobre essa temática é escassa. Assim, o primeiro objetivo desta tese foi descrever as trajetórias de duração do sono entre crianças participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004. Para este propósito, foram utilizados dados de duração do sono dos acompanhamentos dos 3, 12, 24 e 48 meses e características socioeconômicas, maternas e das crianças, para avaliar possíveis fatores associados. Foram identificadas três trajetórias de duração de sono através de modelagem semi-paramétrica baseada em grupos, às quais denominou-se “short sleepers”, “typical sleepers” e “initially longer sleepers”. Quando comparadas aos “typical sleepers”, crianças filhas de mães menos escolarizadas (RO: 1,82; IC95%: 1,26; 2,62), que relataram ter tido depressão ou problema de nervos durante a gestação (RO: 1,31; IC95%: 1,02; 1,68) e que consumiam bebidas alcoólicas aos 3 meses após o parto (RO: 1,60; IC95%: 1,03; 2,50), assim como aquelas crianças que dividiam o quarto com outra criança aos 3 meses de idade (RO: 1,41; IC95%: 1,07; 1,87) apresentaram maiores odds de pertencerem ao grupo dos “short sleepers”. Já o objetivo do artigo de revisão foi localizar a literatura existente acerca de estudos longitudinais que avaliaram a associação da duração do sono com composição corporal e comportamentos relacionados à dieta de crianças e adolescentes. Esses comportamentos têm sido evidenciados como potenciais mediadores da relação entre curta duração do sono e ganho de peso. Os resultados dos estudos que avaliaram a relação entre duração do sono e composição corporal foram controversos. Alguns estudos mostraram um maior acúmulo de gordura corporal naqueles que dormiam menos, outros apresentaram resultados nulos e outros, distintas direções no que tange à massa magra. Ademais, poucos estudos longitudinais avaliaram desfechos semelhantes na relação entre duração do sono e comportamentos relacionados à dieta. Porém, os achados sugerem que a curta duração do sono está relacionada com maior consumo energético e comportamentos alimentares menos saudáveis. Por fim, o segundo artigo original foi desenvolvido com o objetivo de investigar se as trajetórias de duração de sono estavam associadas com medidas antropométricas (incluindo altura) e de composição corporal, aos 6 e aos 11 anos, entre as crianças participantes da mesma coorte. Na análise bruta, foi observado que crianças pertencentes ao grupo dos “short sleepers” apresentaram menor altura aos 6 (β: -0,78; IC95%: -1,42; -0,13) e aos 11 anos (β: -1,07; IC95%: -1,94; -0,21) e menor score-z de altura-para-idade aos 6 (β: -0,16; IC95%: -0,29; -0,04) e aos 11 anos (β: -0,14; IC95%: -0,27; -0,01), quando comparadas às crianças do grupo dos “typical sleepers”. Contudo, após ajuste para potenciais fatores de confusão, as associações desapareceram. Dessa forma, as trajetórias de duração de sono das crianças dos 3 aos 48 meses de idade não se associaram a nenhuma das variáveis antropométricas ou de composição corporal aos 6 e aos 11 anos.