A assistência pré-natal (AP) é um dos meios para reduzir a mortalidade e a morbidade materna com intervenções e informações que promovem a saúde, o bem-estar e a sobrevivência das mães e de seus bebês no ciclo gravídico-puerperal, sua efetividade está relacionada ao desenvolvimento de ações de forma rotineira, obedecendo a padrões técnico-científicos de qualidade. A avaliação da qualidade do conteúdo da AP oferecido às mulheres grávidas é muito importante porque retrata com maior fidelidade o processo de atendimento recebido na dita assistência. A qualidade da AP está relacionada com as características sociodemográficas que possuem as gestantes. No entanto, os aspectos de equidade da qualidade da AP têm recebido ainda pouca atenção. Portanto, a presente tese de doutorado teve como objetivo determinar a qualidade da AP e seus determinantes sociodemográficos na Coorte de nascimentos 2015 do município de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Para tal, foram escritos uma revisão sistemática e dois artigos originais, artigos que compõem esta tese. Os achados da revisão sistemática sobre indicadores de avaliação da qualidade no pré-natal em todo o mundo, no marco das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), sugerem que inúmeros indicadores de conteúdo da AP baseados em diretrizes nacionais ou internacionais estão sendo usados para avaliar a qualidade da AP, isto significa um avanço importante, embora ainda haja necessidade de apropriação desses indicadores e da construção de índices estruturados e padronizados que possam ser utilizados nos diferentes países, permitindo, quando for possível, comparabilidade e monitoramento internacional. Por outro lado, os indicadores de utilização de serviços, seguem sendo usados para avaliar qualidade da AP, no entanto, o cumprimento deles, por si só, não devem ser erroneamente interpretados como qualidade da AP. Para os artigos originais foi utilizada uma amostra de 3923 gestantes na Coorte de Nascimento de Pelotas 2015, Brasil. No primeiro artigo original, foi medida a concordância sobre indicadores da AP entre informações autorreferidas e cartão da AP. Os resultados revelaram uma concordância entre moderada e alta em 48% (n =10/21) dos indicadores da AP relacionados à utilização de serviços, exame clínico e doenças durante a gravidez; os indicadores de aconselhamento tiveram um desempenho ruim em comparação com o restante dos indicadores; as informações autorreferidas apresentaram maior frequência de dados e maior sensibilidade quando comparadas ao cartão pré-natal; os cartões apresentaram desempenho um pouco melhor em termos de especificidade quando comparados ao autorrelato. Os fatores associados à maior concordância entre as duas fontes de dados incluíram menor idade materna, maior escolaridade, mulheres primíparas e assistência médica recebida no setor público. No segundo artigo original, avaliou-se a qualidade da AP e seus determinantes sociodemográficos; também estimou-se os efeitos diretos e indiretos da escolaridade materna na qualidade da AP, mediados pelo número de visitas e o trimestre de início da AP, e estimou-se os efeitos diretos e indiretos da renda familiar na qualidade da AP, mediados pelo provedor de serviços de saúde. A qualidade da AP foi avaliada através de 19 indicadores, tanto de conteúdo como de utilização de serviços, recomendados pelo Ministério da Saúde, de forma individual e agregada através da construção de um escore. As associações de cada um dos indicadores de acordo com as variáveis independentes foram obtidas usando-se o teste do qui-quadrado e teste de tendência linear. Para a análise de associação do escore de qualidade da AP com as variáveis sociodemográficas, utilizou-se a regressão ordinal considerando modelo hierárquico. Para a análise de mediação usou-se computation. Os resultados mostraram que, exceto para o exame das mamas, a medida da altura, a vacinação com toxóide tetânico e a AP iniciados no primeiro trimestre, todos os indicadores da AP apresentaram mais de 80% de cobertura durante as visitas da AP. Na análise ajustada, a falta de qualidade da AP esteve associada à menor escolaridade da mãe, não ter companheiro, ser multípara, ser atendida por um prestador privado e pelo mesmo profissional em todas as consultas. Nas análises de mediação, 6,8% da associação entre a qualidade da AP e a escolaridade da mãe foram mediados pelo trimestre no início da AP e 12,8% pelo número de visitas.