Nos último anos, as pesquisas epidemiológicas têm sofrido com a constante redução das taxas de resposta. Este problema pode comprometer a validade dos achados em virtude da maior probabilidade de ocorrência do viés de não resposta. Diversos fatores podem comprometer a taxa de resposta de estudos epidemiológicos, incluindo o método utilizado para coletar os dados (artigo 1). Aproveitando o avanço da cobertura e do acesso à internet, muitos estudos em países de alta renda estão utilizando este meio de comunicação para o levantamento de dados epidemiológicos, porém a condução de pesquisas epidemiológicas em países de baixa ou média renda ainda é pouco explorada. Com isso, o primeiro objetivo desta tese foi desenvolver uma plataforma, chamada coortesnaweb, para a condução de pesquisas epidemiológicas através da internet entre os membros da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 1993. A coortesnaweb compreende todas as etapas do processo de levantamento de dados epidemiológicos, como recrutamento, coleta de dados e retorno de resultados, além de funções extra como estratégias de gamificação. Através desta plataforma, foram analisadas a eficiência e as desigualdades de três métodos de recrutamento online e gratuitos para convidar os membros da Coorte 1993 para se registrar na coortesnaweb (artigo 2). Os membros elegíveis foram alocados aleatoriamente para serem recrutados por e-mail, mensagens de Facebook ou Whatsapp. A taxa de recrutamento foi calculada para cada um dos métodos e de acordo com as características sócio demográficas dos membros elegíveis. Também foram analisadas as desigualdades absoluta e relativa por método de recrutamento e de acordo com escolaridade e renda. A taxa de recrutamento geral foi 26,8%, sendo o Facebook o método de recrutamento mais eficiente (taxa de recrutamento = 30,6%). As maiores desigualdades no recrutamento, com relação à renda e escolaridade, foram observadas utilizando e-mail. O Facebook foi o método que apresentou as menores desigualdades. Também através da plataforma coortesnaweb, foram analisadas a influência do tamanho do questionário e da frequência de envio dos lembretes sobre a taxa de resposta a cinco questionários aplicados através da web, utilizando um desenho fatorial 2×2 (artigo 3). No momento do registro na plataforma coortesnaweb, os participantes foram aleatoriamente alocados para responder a questionários longos ou curtos, e para receber lembretes com alta ou baixa frequência. Além da taxa de resposta por questionário, também foi analisado o número total de questionários respondidos de acordo com as características sócio demográficas dos participantes. Considerando os cinco questionários, a taxa de resposta média foi 54,3%. O envio mais frequente de lembretes foi associado a uma maior taxa de resposta para os primeiros dois questionários aplicados, enquanto o tamanho dos questionários não teve influência na taxa de resposta. Mulheres e participantes que estudaram 12 anos ou mais tiveram, respectivamente, 13,0% (IC95% =1,03; 1,23) e 28,0% (IC95% =1,09; 1,50) maior risco de responder um questionário a mais, comparando com as categorias de referência. Em geral, nossos resultados mostram que é viável conduzir pesquisas epidemiológicas através da internet no contexto brasileiro, mesmo que a cobertura de internet não seja universal. Ainda assim, a maior participação de alguns grupos sócio demográficos deve ser levada em consideração na interpretação dos achados produzidos por pesquisas web, principalmente quanto às estimativas de prevalência.