O papel da inteligência ao longo da vida está bem estabelecido, com um quociente de inteligência (QI) mais alto sendo associado ao sucesso acadêmico e profissional, maior renda na vida adulta e menores taxas de morbidade e mortalidade. Estudos anteriores demonstraram que o perímetro cefálico está relacionado ao tamanho do cérebro e à aquisição de inteligência. Isso é particularmente relevante porque o perímetro cefálico é uma medida simples, econômica e de fácil aplicação, especialmente em países de baixa e média renda, onde muitas crianças estão em risco de não atingir seu potencial de desenvolvimento devido às adversidades iniciais, incluindo pobreza e problemas nutricionais. Diante disso, a presente tese teve quatro principais objetivos: 1) Avaliar a associação entre o perímetro cefálico e a inteligência, escolaridade, emprego e renda na literatura existente; 2) Investigar a associação entre o perímetro cefálico ao nascimento, o QI e a escolaridade no início da vida adulta, explorando a não linearidade dessa associação; 3) Descrever o perímetro cefálico ao nascimento e seu crescimento durante o primeiro ano de vida e 4) Examinar a relação entre o crescimento do perímetro cefálico durante o primeiro ano de vida e o QI aos 18 anos de idade, visando identificar um período crítico na infância no qual intervenções poderiam ser mais eficazes. Para atingir esses objetivos, realizamos três estudos: uma revisão sistemática com buscas na PubMed, Web of Science, PsycINFO, LILACS, CINAHL, no Repositório Institucional da OMS e no UNICEF Innocenti, bem como dois estudos originais utilizando dados da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas. Na revisão sistemática, identificamos uma grande heterogeneidade e inconsistência nas medidas de efeito entre os estudos. Embora tenhamos incluído um número relativamente grande de artigos (N=115), mais de 80% apresentaram limitações significativas, incluindo ajuste inadequado para fatores de confusão e viés de seleção. Perímetros cefálicos maiores foram geralmente associados a um aumento na inteligência e no desempenho acadêmico, mas houve evidências de não linearidade nessas associações. O efeito do perímetro cefálico parece diminuir após os dois anos de idade. Embora as evidências sejam limitadas, perímetros cefálicos maiores também parecem estar associados a melhores níveis de escolaridade e emprego. Nenhum estudo investigou a associação entre perímetro cefálico e renda. Nos artigos originais, o perímetro cefálico ao nascimento foi positivamente associado ao QI aos 18 anos e à escolaridade aos 22 anos, com maiores forças de associação observadas no extremo inferior da distribuição do perímetro cefálico. Independentemente do perímetro cefálico ao nascimento, um aumento de um desvio-padrão (DP) no crescimento relativo do perímetro cefálico durante o primeiro ano de vida foi associado a um aumento de 1,3 pontos no QI na idade adulta (IC 95%: 0,5, 2,1). Esse efeito deve-se principalmente ao crescimento relativo nos primeiros seis meses de vida, enquanto o efeito do crescimento relativo de seis a doze meses pareceu menor ou insignificante. Nossos achados oferecem uma perspectiva encorajadora para indivíduos que enfrentaram adversidades durante a gestação. Embora a associação entre perímetro cefálico ao nascimento e inteligência persista até a vida adulta, crianças que nasceram com perímetros cefálicos menores podem superar essa desvantagem. É importante ressaltar que um crescimento compensatório significativo foi observado na prática, com aumentos de 2, 3 e até 4 DP durante o primeiro ano de vida. Mais pesquisas são necessárias para identificar fatores que influenciam o crescimento do perímetro cefálico nos primeiros seis meses de vida e que possam ser utilizados para guiar intervenções na primeira infância, visando otimizar o desenvolvimento cognitivo.