Nos anos 60 sugiram estudos sobre capital humano (CH), medido através de várias formas, que incluem, por exemplo, função executiva (FE), escolaridade e quociente de inteligência (QI). Investimentos nessas capacidades individuais poderiam levar a um melhor retorno em termos sociais e monetários. No componente saúde, o Brasil apresenta uma alta carga de doenças crônicas não transmissíveis, sendo importante o monitoramento da ocorrência de multimorbidade (duas ou mais doenças ao mesmo tempo) e da simultaneidade de fatores de risco à saúde (SFR) (dois ou mais fatores de risco ao mesmo tempo). A presente Tese foi baseada em dados da Coorte de Nascimento de Pelotas de 1993 nos acompanhamentos 11, 15, 18 e 22 anos. Primeiramente, foi realizado um estudo descritivo sobre a ocorrência de SFR e multimorbidade (Artigo 1). Foram investigados oito doenças e sete fatores de risco à saúde. Alergia foi a doença mais prevalente aos 11 e 15 anos. Excesso de comportamento sedentário foi o fator de risco mais prevalente aos 11, 15 e 18 anos de idade. A ocorrência de multimorbidade aumentou de 26,3%, aos 11 anos, para 44,4% aos 22 anos. Cerca de 70% da amostra, independentemente da idade, apresentou SFR. A presença de multimorbidade e SFR ao mesmo tempo aumentou de 19,7% para 35,4% dos 11 aos 22 anos, respectivamente. O segundo artigo buscou descobrir como que os fatores de risco e morbidades se aglomeram em cada idade avaliada. Foi realizada uma análise de redes, na qual as mesmas 15 condições de saúde avaliadas no Artigo 1 foram mensuradas. Foi observado no início da adolescência (11 anos) um forte padrão de correlação entre a tríade tabagismo, consumo de álcool e uso de drogas ilícitas. O tabagismo demonstra ser o fator de risco mais importante na rede, em todas as idades e ambos os sexos. Por fim, o Artigo 3 buscou identificar como que trajetórias de acúmulo de fatores risco à saúde e de doenças estão associadas ao menor CH (FE, escolaridade e QI) no início da vida adulta (22 anos). A amostra analítica foi restrita a membros da coorte com informação completa para todas as cinco morbidades e seis fatores de risco nos quatro acompanhamentos (n=2441). Três trajetórias foram identificadas: “consistentemente baixo” e “consistentemente intermediário” para fatores de risco e morbidades; “aumento rápido e consistente” (apenas para fatores de risco) ou “aumento leve e consistente” (apenas para morbidades). A escolaridade incompleta (aos 22 anos) foi associada com a trajetória de fatores de risco, mesmo após os ajustes (RO= 1,85. IC95% 1,28; 2,67). Os três estudos indicam alta prevalência de SFR à saúde e multimorbidade no início da adolescência com impacto no CH no início da vida adulta. Gestores públicos devem considerar ações para reduzir ambas as condições nas primeiras fases da vida.