Maus-tratos infantis são quaisquer atos de abuso ou omissão que possam resultar em danos à saúde, segurança ou dignidade de uma criança, podendo afetar sua saúde emocional, física e social a curto e longo prazo. Dentro desses danos, estudos têm descrito a associação de maus-tratos infantis com o uso de substâncias psicoativas. Contudo, há uma escassez de investigações realizadas em países de baixa e média renda, que têm contextos sociais que muitas vezes podem favorecer tanto os maus-tratos, quanto o acesso e utilização das substâncias psicoativas. Ainda, é necessário estudos que investiguem na mesma população a associação de diferentes tipos de maus-tratos com uma variedade de tipos de substâncias psicoativas a fim de identificar indivíduos em maior vulnerabilidade. Logo, essa tese teve o objetivo de investigar associações longitudinais entre maus-tratos na infância e uso de substâncias psicoativas durante a adolescência e início da idade adulta utilizando dados da Coorte de nascimentos de 1993. Três artigos compõe a tese em conjunto com o projeto de pesquisa. O primeiro artigo avaliou a associação entre quatro tipos de maus-tratos infantis ocorridos até aos 15 anos com a utilização de tabaco, uso prejudicial de álcool e utilização de drogas ilicitas em três pontos de avaliação: aos 15, 18 e aos 22 anos. Esse artigo também explorou diferenças da associação entre sexos. De forma geral, os maus-tratos infantis foram associados ao uso de substâncias e a força das associações diminuiu com o tempo. Quando as diferenças entre sexo foram presentes, as associações foram mais fortes entre as mulheres. O segundo artigo compreendeu uma revisão sistemática dos estudos que exploraram a associação entre maus-tratos infantis e uso de substâncias psicoativas. Nessa revisão, as associações foram positivas de forma geral, sendo observado maior força de associação quando os maus-tratos era do tipo sexual e a substância ilícita, apesar de intervalos de confiança se sobreporem comumente. Contudo, algumas limitações metodológicas nos estudos incluídos foram identificadas e devem ser levadas em consideração na interpretação. Quase metade dos estudos foram transversais/retrospectivos, dificultando a certeza temporal dos eventos e podendo ter ajuste erroneo para um mediador e subestimar ou mesmo anular a medida do efeito de associação. Por fim, o terceiro artigo avaliou o papel mediador do sofrimento mental (aos 18 anos) na associação entre maus-tratos infantis (até aos 15 anos) e uso de substâncias psicoativas (aos 18 anos), encontrando que o sofrimento mental media parcialmente essa associação.