Embora as taxas de fecundidade na adolescência estejam diminuindo, a maternidade na adolescência mantém sua visibilidade como fenômeno social que necessita especial atenção de gestores públicos e pesquisadores. Muitos estudos sugerem que ser mãe na adolescência tem efeitos deletérios para a saúde da própria mãe e para seu filho nos primeiros anos de vida. Outros autores apontam para efeitos adversos a longo prazo, porém, a literatura neste sentido é limitada, particularmente em países de renda media e baixa. As coortes de nascimentos de Pelotas de 1982, 1993 e 2004 ofereceram uma valiosa oportunidade para estudar as consequências a curto e longo prazo da maternidade na adolescência sobre diferentes desfechos relacionados à saúde, comportamento, educação e emprego dos filhos. A hipótese de que a maternidade na adolescência confere um maior risco de mortalidade nos períodos fetal, perinatal, neonatal, pós-neonatal e infantil foi testada nas três coortes. Adicionalmente, foram analisadas consequências a longo prazo, incluindo comportamentos relacionados à saúde, atividade sexual, escolaridade e emprego em adolescentes e adultos jovens. Nossos resultados apontaram para uma maior probabilidade de morte no período pós-neonatal entre filhos de mães adolescentes após ajuste para fatores de confusão. No entanto, este efeito desapareceu após controle para variáveis relacionadas aos cuidados durante a gravidez (ganho de peso e visitas pré-natais). Além disso, filhos de mães adolescentes apresentaram maior probabilidade de iniciar relações sexuais antes dos 16 anos, de serem pais na adolescência e de formarem suas próprias famílias mais precocemente. Em geral, tanto nos resultados das coortes de Pelotas quanto em uma revisão sistemática da literatura, identificou-se que características socioeconômicas e familiares pré-gestacionais explicaram a maior parte dos efeitos adversos observados nos filhos. Portanto, os programas para a prevenção da maternidade na adolescência devem visar à modificação das circunstâncias que envolvem as mães adolescentes, como a baixa escolaridade e a pobreza, pois estas continuam sendo as preditoras de maior importância das condições de desvantagens de seus filhos em relação à saúde e características socioeconômicas.