Teses - PPGEpi

Título:

Desigualdades socioeconômicas e urbano-rurais na assistência ao parto em países de renda baixa e média

Autor:

Joseph Gary

E-mail:

garryj79@yahoo.fr

Área de concentração:

Orientador:

Cesar Gomes Victora

Banca examinadora:

Data da defesa:

11/09/2017

Palavras-chave:

Resumo:

Melhorar a saúde materno-neonatal continua sendo um desafio para a maioria dos países de renda baixa e média (PRBM). Globalmente, é estimado que 303.000 mulheres morrem a cada ano devido a complicações relacionadas a gravidez e ao parto, e mais 8 milhões sofrem de doenças graves e deficiências ao longo da vida em decorrência deste processo. No que diz respeito às crianças, são 2,8 milhões óbitos a cada ano nos primeiros 28 dias de vida. Em 1999, a assistência qualificada ao parto (AQP) foi escolhida pelas Nações Unidas como indicador para monitorar progresso na redução da mortalidade materna, sendo estipulada a meta de atingir 90,0% de cobertura em 2015, e assim contribuir para alcançar o quinto objetivo do desenvolvimento do milênio (ODM5) – reduzir a mortalidade materna em 75,0% de 1990 até 2015. A redução da mortalidade neonatal, embora não contasse como uma meta específica, faz parte do quarto objetivo de desenvolvimento do milênio (ODM4), cuja meta era alcançar redução da taxa de mortalidade em crianças menores de cinco anos de dois terços até 2015. Conforme a literatura, com um incremento da cobertura de parto institucional e da AQP, um total de 113.000 óbitos maternos e 1.325 milhão de óbitos neonatais poderiam ser evitados anualmente até 2020. A nível global, progressos foram observados, porém importantes desigualdades socioeconômicas e geográficas na AQP e parto institucional persistem. Os inquéritos da DHS, MICS, RHS e dados disponíveis pelo Banco Mundial são ferramentas importantes para avaliar esses tópicos, assim como as desigualdades socioeconômicas e geográficas relacionadas nos PRBM. Três artigos originais compõem a tese: No primeiro artigo, estimamos a frequência da cobertura de partos por AQP (parto assistido por médico, enfermeira, obstetriz ou outra categoria considerada por cada pais), parto institucional (público-privado), assim como a combinação do lugar de parto e tipo de assistente em 80 PRBM, utilizando o inquérito mais recente (DHS, MICS) de cada pais a partir de 2005. Os resultados mostraram a existência de quatro categorias de assistência ao parto: 1) parto institucionais por AQP, 2) parto institucional sem AQP, 3) parto domiciliar por AQP, e 4) parto domiciliar sem AQP. As categorias 1 e 4 foram as mais frequentes, e parto por AQP foi altamente correlacionado com parto institucional (rho:0,97; p<0,001). Em oito países, o parto domiciliar por AQP (categoria 3) foi maior que 10,0%, e em dois países, o parto institucional por um assistente não qualificado (categoria 2) maior de 10,0%. Desigualdade pró-rica e pró-urbana foram observadas na cobertura de partos por AQP e parto institucional. O segundo artigo explorou a capacidade preditiva da renda absoluta e dos quintis de bens (posição socioeconômica relativa) sobre a cobertura de parto por AQP, utilizando dados de 293 inquéritos nacionais (DHS, MICS, RHS) de 100 PRBM. Na análise entre países, o logaritmo natural da renda absoluta foi capaz de predizer 51,5% da variabilidade observada na cobertura de AQP comparado a 22,0% para o índice de bens, sendo a renda absoluta considerada o melhor preditor da cobertura de AQP do que quintis de bens. No terceiro artigo, comparamos a cobertura e as desigualdades socioeconômicas das mulheres de áreas urbanas e rurais no acesso a AQP, e em particular, as mulheres urbanas mais pobres versus as mulheres rurais mais pobres. Utilizamos os últimos inquéritos (DHS, MICS, RHS) de 92 PRBM conduzidos a partir de 2005 com informações disponíveis sobre AQP e índice de bens. Calculamos estimativas de AQP por quintis de bens em zona urbana e rural separadamente, e o resultado foi baseado em 52 países que tinham pelo menos 25 mulheres em cada uma das 10 caselas resultantes desta combinação. As mulheres da zona rural, em geral, apresentaram menor nível de cobertura e maior desigualdade no acesso a serviços de saúde. Também foi evidenciado que as mulheres mais pobres da zona rural apresentaram menor cobertura comparado as mais pobres da zona urbana. Além disso, seis grupos de países foram identificados, baseados na diferença de cobertura entre mulheres da zona urbana e rural e na diferença da desigualdade absoluta (SII) nas áreas urbana e rural.