Muito estudos têm mostrado a associação positiva entre atividade física e diversos desfechos em saúde. Indivíduos que não atingem as recomendações de atividade física apresentam maiores riscos de mortalidade e de desenvolver uma série de doenças. Ademais, o comportamento sedentário, que pode ter efeito independente da atividade física, também tem se mostrado associado com maiores riscos de morbimortalidade. Apesar disso, baixas prevalências de atividade física e altas prevalências de comportamento sedentário têm sido encontradas no mundo todo. Esse fato é especialmente preocupante por também ser observado em crianças e adolescentes. Outra população que apresenta níveis extremamente baixos de atividade física é a população de gestantes, embora a atividade física seja recomendada durante a gestação e sua prática esteja associada com benefícios à saúde materna e infantil. Estudos sobre a associação entre atividade física e função pulmonar são escassos na literatura. No entanto, a função pulmonar é um importante desfecho em saúde. Indivíduos com uma função pulmonar reduzida apresentam risco aumentado não apenas de doenças respiratórias, mas de mortalidade por todas as causas, câncer, cardiovascular e respiratória. Ainda, uma função pulmonar reduzida na infância está associada com um maior risco de mortalidade na vida adulta. Poucos estudos longitudinais avaliaram a associação da atividade física e função pulmonar em adolescentes. Além disso, não foram encontrados estudos longitudinais que avaliassem essa associação durante a gestação. Portanto, a presente tese de doutorado teve como objetivo: 1) avaliar a associação entre atividade física e comportamento sedentário e a função pulmonar em adolescentes pertencentes à Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas; 2) avaliar os efeitos de um programa de exercícios durante a gestação na função pulmonar em gestantes do estudo PAMELA. Para tal, três artigos originais compõem a tese. No primeiro artigo foi avaliada a associação prospectiva da atividade física dos 11 aos 15 anos e o ganho de função pulmonar dos 15 aos 18 anos em adolescentes da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas. A atividade física foi autorrelatada aos 11 e 15 anos e a espirometria foi realizada aos 15 e 18 anos. Meninos que foram ativos (atividade física de lazer e total) aos 11 e 15 anos tiveram maiores ganhos de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), capacidade vital forçada (CVF) e pico de fluxo expiratório (PFE) do que os meninos que foram inativos em ambas idades. Análises de mediação mostraram que a altura aos 18 anos dos adolescentes explicou até 75% da associação entre atividade física e ganhos de função pulmonar. Nenhuma associação significativa foi encontrada entre as meninas. No segundo artigo foi avaliada a associação entre a trajetória de comportamento sedentário dos 11 aos 18 anos e a função pulmonar aos 18 anos em adolescentes da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas. O tempo utilizado assistindo televisão, jogando videogame e usando o computador em um dia de semana foi autorrelatado aos 11, 15 e 18 anos. Para cada idade, o comportamento sedentário foi definido como a soma do tempo dessas três atividades de tela. A espirometria foi realizada aos 18 anos. Não foram encontradas diferenças significativas na função pulmonar aos 18 anos entre os adolescentes que tiveram baixos níveis de comportamento sedentário dos 11 aos 18 anos e aqueles que apresentaram sempre altos níveis. Por fim, no terceiro artigo foram avaliados os efeitos do exercício regular durante a gestação na função pulmonar de gestantes do estudo PAMELA. O estudo PAMELA consistiu de um ensaio controlado randomizado com dois grupos de gestantes, grupo intervenção e grupo controle. As gestantes do grupo intervenção participaram de um programa de exercício durante 16 semanas. A função pulmonar (VEF1 e PFE) foi avaliada três vezes durante o estudo (início, meio e final) em ambos grupos. Gestantes do grupo intervenção que aderiram ao protocolo tiveram maior valor de PEF na avaliação do meio e também apresentaram maior ganho de PEF no segundo trimestre da gestação (do início ao meio do estudo) comparadas às gestantes do grupo controle. Sendo assim, conclui-se que a prática de atividade física durante o início da adolescência está associada com maiores ganhos de função pulmonar dos 15 aos 18 anos nos meninos, enquanto o comportamento sedentário baseado em tempo de tela durante adolescência não parece afetar a função pulmonar aos 18 anos em ambos os sexos. Além disso, a prática regular de exercício físico durante a gestação está associada a maiores valores e incrementos de PFE no segundo trimestre da gestação.