A amamentação traz claros benefícios à saúde e capital humano, tanto em curto quanto em longo prazo. Entre os possíveis mecanismos biológicos responsáveis por estes efeitos, estão as modificações epigenéticas – incluindo a metilação do DNA – e a presença de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (cuja sigla em inglês é LC-PUFAs) no leite materno. Nesta tese, foi investigada a relação entre amamentação e metilação do DNA da criança através de uma revisão sistemática da literatura (artigo 1) e de um estudo original, avaliando níveis de metilação do DNA em centenas de milhares de regiões ao longo do genoma (artigo 2). O papel dos LC-PUFAs na associação entre amamentação e quociente de inteligência (QI) também foi avaliada através de um estudo de interação entre polimorfismos no gene FADS2 (que codifica uma enzima chave para a síntese endógena desses ácidos graxos) e amamentação, tendo QI como desfecho (artigo 3). Adotou-se a hipótese de adequação nutricional, de acordo com a qual o benefício da amamentação no QI seria maior nos indivíduos portadores de genótipos associados a uma menor síntese endógena de LC-PUFAs (e, portanto, mais dependentes de LC-PUFAs pré-formados). No artigo 1, verificou-se que a literatura sobre a relação entre amamentação e metilação do DNA é escassa, e os poucos estudos apresentam limitações importantes. No artigo 2, que utilizou dados de uma coorte inglesa de nascimentos, foram encontradas associações entre amamentação e níveis de metilação do DNA no sangue periférico aos 7 anos, e algumas dessas associações persistiram até a adolescência. No artigo 3, baseado em uma meta-análise de novo de dados publicados e não-publicados, observou-se uma maior média de QI entre os indivíduos que foram amamentados em ambos os grupos genéticos, sem evidência de interação amamentação-FADS2, contrariando a hipótese de adequação nutricional. Porém, análises complementares sugeriram que é possível que esta hipótese seja correta, mas que detectar a interação investigada requereria que a média de duração da amamentação nos estudos incluídos fosse maior. Os resultados dos três artigos indicam que amamentação está associação com modificações epigenéticos persistentes, e que a amamentação está positivamente associada com QI em todos os genótipos quanto aos polimorfimos estudados.