Logo nos primeiros dias da pandemia de Covid-19 no Brasil em março de 2020, um grupo de epidemiologistas, liderado pela Universidade Federal de Pelotas, sede de um dos mais conceituados centros de epidemiologia do país, reuniu-se para discutir as possíveis contribuições que poderia dar ao povo brasileiro naquele momento de emergência sanitária. Houve consenso de que, naquele momento, dados de base populacional sobre a magnitude e velocidade de disseminação da Covid-19 no Brasil, seus sintomas e fatores associados eram essenciais para o melhor enfrentamento da pandemia no Brasil.
A proposta foi apresentada inicialmente ao Governo Estado do Rio Grande do Sul e foi imediatamente posta em prática. Entre abril de 2020 e abril de 2021, foram conduzidas dez rodadas de um estudo de base populacional cobrindo as nove regiões intermediárias do Rio Grande do Sul.
Em março de 2020, com a aproximação da primeira rodada do estudo gaúcho, houve contato entre a Secretária de Atenção Primária à Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde e a coordenação do EPICOVID-19 para a ampliação do estudo para todo o território nacional. Num espaço de semanas, a metodologia foi adaptada e as coletas de dados foram iniciadas. No estudo nacional, cada rodada incluiu 133 cidades, representando todos os estados da Federação, com amostra incluindo 33.250 domicílios.
A partir de junho de 2020, após sucessivas reformulações ocorridas no Ministério da Saúde, o EPICOVID-19 perdeu espaço na agenda de prioridades da pasta. Outras fontes de financiamento foram buscadas, possibilitando que mais duas rodadas do EPICOVID-19 nacional fossem realizadas, sendo a última no primeiro trimestre de 2021.
No início de 2023, o EPICOVID 2.0 foi proposto ao Ministério da Saúde do Brasil, que tinha como objetivo principal realizar um inquérito de base populacional que pudesse avaliar o real impacto da pandemia por COVID19 no Brasil. Investigou-se aspectos sociodemográficos e de composição familiar e domiciliar; sintomas e complicações pós-COVID-19; infecções prévias por COVID-19, sua sintomatologia, tratamento e busca por atendimento de saúde; impactos financeiros, alimentares, educacionais, comportamentais, bem como impactos na saúde mental e física; vacinação contra COVID-19.
O EPICOVID 2.0 foi um inquérito de abrangência nacional que englobou todos os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide o país em 133 regiões intermediárias, e o levantamento incluiu a área urbana da cidade mais populosa dentro de cada região intermediária(1). As cidades incluídas são mostradas na Figura 1 e listadas no Material Suplementar 1.
Figura 1. Localização das 133 cidades incluídas no estudo EPICOVID 2.0.
O desenho da pesquisa empregou um método de amostragem probabilística em vários estágios. Dentro de cada cidade, 25 setores censitários urbanos, uma pequena área geográfica permanente usada para coletar dados censitários, foram selecionados com uma probabilidade proporcional ao seu tamanho. Dez domicílios foram escolhidos aleatoriamente de cada setor censitário, utilizando-se mapas e cadastros de domicílios fornecidos pelo IBGE, resultando em 250 domicílios por município.
A pesquisa foi realizada entre março e junho de 2024. Durante as fases iniciais da pesquisa, o Ministério da Saúde do Brasil forneceu apoio crucial, facilitando o contato com as secretarias municipais de saúde e obtendo autorização para a realização do estudo. Essa colaboração provavelmente aumentou a disposição dos participantes de se envolver, garantindo a implementação bem-sucedida do estudo em todos os municípios. A equipe do estudo visitou os domicílios selecionados e registrou as idades e sexos dos membros da família. Um membro da família foi selecionado aleatoriamente para participar, com um segundo membro também selecionado aleatoriamente se o primeiro se recusasse a participar. Se ambos os indivíduos se recusassem, a equipe do estudo seguia para a próxima casa vizinha à direita. Se o domicílio fosse composto por apenas uma pessoa e essa pessoa se recusasse, a equipe do estudo passava para o próximo domicílio. O tamanho amostral projetado do estudo foi de 33.250 indivíduos, o qual foi atingido com sucesso ao final do trabalho de campo.
Um aplicativo de smartphone foi usado para coleta de dados seguindo um protocolo de entrevista pessoal assistida por computador. Este aplicativo foi desenvolvido em sistema de coleta de dados gerenciado pela empresa LGA, que foi a vencedora da licitação para condução do levantamento de dados do EPICOVID 2.0. O questionário, composto por 215 questões, foi dividido em quatro seções:
O questionário completo pode ser obtido na seção de Downloads.
A aprovação ética para este estudo foi obtida do Comitê de Ética da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas [CAAE: 68382923.8.0000.5313]. O consentimento informado por escrito foi obtido de todos os participantes adultos e dos pais ou responsáveis legais dos participantes menores.
2023
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