A atividade física (AF) é um comportamento que ocorre em diferentes domínios, como no lazer, deslocamento, trabalho e doméstico. Características como sexo, raça/cor, renda, entre outras, se associam diferentemente com a prática de AF conforme o domínio. A interseccionalidade, abordagem que considera a inseparabilidade dessas características, que são marcadores de desigualdade, vem ganhando espaço na área da AF. Ela destaca como os marcadores se combinam e se sobrepõem, amplificando os impactos na saúde e comportamentos de saúde, como a AF. O presente estudo teve como objetivo avaliar as desigualdades demográficas e socioeconômicas, separadamente e utilizando uma abordagem interseccional, nos quatro domínios de AF aos 23 anos e nos domínios do lazer e deslocamento aos 40 anos. Utilizou-se dados de dois acompanhementos da vida adulta da Coorte de Nascimentos de 1982 de Pelotas (23 e 40 anos). Para a coleta de AF, foi utilizado o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) para os domínios do lazer e deslocamento aos 23 e 40 anos e trabalho e doméstico aos 23 anos. Os marcadores de desigualdade analisados unidimensionalmente e interseccionalmente foram sexo, raça/cor e renda familiar. Para todos os domínios, foram calculadas prevalências e intervalos de confiança 95% (IC95%) da prática de AF e as respectivas medidas de desigualdade absolutas e relativas (diferença, razões, SIope Index of Inequality – SII e Concentration Index – CIX) para cada marcador separadamente, prevalências de AF e IC95% para todas as categorias de interseccionalidade e estimou-se, por Regressão de Poisson, as razões de prevalência considerando termos de interações duplas e triplas entre marcadores sociais. A amostra analítica foi composta por 4.296 e 2.761 indivíduos aos 23 e 40 anos, respectivamente. Aos 23 anos, o grupo mais privilegiado (homens brancos de alta renda) teve menor prevalência de AF no trabalho (66,7% vs. 84,7%) e doméstica (57,9% vs. 95,8%) comparado ao grupo mais vulnerável (mulheres negras de baixa renda). Aos 23 e 40 anos, o grupo mais privilegiado apresentou maior prevalência de AF no lazer (77,1% e 71,4%) e menor no deslocamento (75,3% e 54,0%), em comparação ao grupo mais vulnerável (29,7% e 41,9% no lazer e 85,8 % e 69,6 % no deslocamento, respectivamente). Longitudinalmente, aos 40 anos as desigualdades entre sexo e entre os grupos extremos interseccionais tiveram uma redução no lazer, enquanto para o deslocamento aumentaram para renda de forma absoluta e grupos extremos interseccionais, de forma absoluta e relativa. Concluiu-se que unidimensionalmente e interseccionalmente, nas duas idades avaliadas, características de vulnerabilidade estão relacionadas a uma maior prevalência de AF em domínios de necessidade, enquanto características de privilégio no domínio do lazer.