Pesquisa da Ufpel, apoiada pela Umane, mostra que aumento do perímetro cefálico de bebês foi associado a 1,3 pontos a mais no desenvolvimento cognitivo adulto.
Uma pesquisa inédita mostrou que, independentemente do tamanho da cabeça de um bebê ao nascer, quanto maior o crescimento do perímetro cefálico no primeiro ano de vida, maior o Quociente de inteligência (QI) aos 18 anos. A conclusão é de uma pesquisa de doutorado conduzida no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido), apoiada pela Umane, organização que atua pelo fortalecimento da saúde pública.
Estudos anteriores já apontavam que o tamanho da cabeça no nascimento era um fator determinante para a média de QI. No entanto, essa nova pesquisa mostra que é possível, ainda, ter um salto nesse desenvolvimento cerebral no início da vida, contribuindo para o desempenho cognitivo na vida adulta. De acordo com os dados, um aumento de um desvio-padrão no crescimento do perímetro cefálico durante o primeiro ano foi associado a 1,3 pontos a mais no QI na vida adulta. O efeito foi mais marcante quando o crescimento se deu nos primeiros seis meses de vida, período considerado crítico para o desenvolvimento cerebral.
Um exemplo trazido pelo estudo, para ilustrar na prática esse desenvolvimento, é de um menino que nasceu com 31,9 cm de perímetro cefálico — valor abaixo do registrado em 97% dos nascimentos masculinos, seguindo os padrões da Curva de Crescimento Infantil da Organização Mundial da Saúde. Ou seja, bem abaixo da média dos seus pares. Ao longo do primeiro ano, esse menino alcançou 46,1 cm, a média esperada para sua idade. Esse “salto” para superar a desvantagem inicial representou uma previsão de QI, aos 18 anos, três pontos acima do que ele teria se tivesse mantido a mesma diferença inicial em relação aos meninos da mesma idade.
Segundo a autora da pesquisa, Marina de Borba Oliveira Freire, o principal valor do estudo é mostrar que o crescimento cerebral nos primeiros meses pode fazer diferença concreta no futuro. Isso reforça a importância de políticas e práticas que garantam boa nutrição, acompanhamento pediátrico adequado, amamentação e estímulos no ambiente familiar. “É fundamental compreender que o perímetro cefálico é apenas um dos muitos indicadores de desenvolvimento infantil e não deve ser usado isoladamente nem de forma estigmatizante. O que nossa pesquisa aponta é o potencial da medida para ajudar profissionais de saúde a identificar precocemente crianças que possam se beneficiar de maior atenção e cuidado”, afirma Marina.
Para Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane, a pesquisa reforça a importância de investimentos na saúde pública na primeira infância. “Os primeiros anos de vida são de vital importância para o seu desenvolvimento, e políticas de saúde pública precisam ser intersetoriais e integradas, para que os benefícios à sociedade também o sejam. Esta pesquisa demonstra como um fator, não isoladamente, mas integrado a tantos outros – como amamentação, introdução alimentar adequada -, pode ser identificado por profissionais de saúde precocemente e analisado junto ao contexto familiar e comunitário, para, em última instância, oportunizarmos um desenvolvimento infantil que conduz ao atingimento do pleno potencial de cada bebê nascido no Brasil”.
O estudo acompanhou o desenvolvimento de mais de 4 mil bebês ao longo de 30 anos, entre 1993 e 2023, dentro da Coorte de Nascimentos de 1993 na cidade de Pelotas, no Sul do Brasil.




