A asma é uma doença caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas, com sintomas respiratórios recorrentes, que variam em intensidade e frequência ao longo do tempo, sendo que o sintoma respiratório mais comumente observado é a sibilância. Nos últimos anos, a literatura científica menciona uma possível associação positiva entre sibilância e obesidade. A obesidade é uma doença crônica não transmissível, multifatorial, com iminente crescimento, tornando-se um problema de saúde pública global. No entanto, a relação entre as duas condições ainda não está bem estabelecida na literatura e sabe-se que indivíduos asmáticos obesos tendem a apresentar um pior controle das doenças, afetando a qualidade de vida e limitando as atividades de vida diárias. Assim, esta tese objetivou explorar a associação entre asma (mensurada pelo sintoma sibilância) e obesidade, utilizando dados da coorte de nascimentos de Pelotas de 1993, com um acompanhamento desde a infância até o início da vida adulta, e com foco na bidirecionalidade da associação e nas trajetórias de sibilância e obesidade ao longo desse período. Para tanto, três artigos científicos compõem essa tese. O primeiro, teve como objetivo analisar a associação bidirecional entre sibilância e obesidade durante a adolescência até o início da vida adulta (dos 11 aos 22 anos de idade), considerando um efeito cumulativo das exposições. Foi observado uma associação bidirecional positiva entre sibilância e obesidade especificamente no sexo feminino. De modo que, aquelas mulheres que apresentaram sibilância em dois acompanhamentos entre os 11 e 18 anos, tiveram uma maior chance de ser classificadas como obesas aos 22 anos, assim como, aquelas mulheres classificadas como obesas em dois acompanhamentos tiveram uma maior chance de desenvolver sibilância aos 22 anos. Já o segundo artigo, consta de uma análise longitudinal que buscou identificar as trajetórias de sibilância e obesidade dos 4 aos 22 anos de idade e também verificar se há uma associação bidirecional entre as duas condições. Foram identificados quatro grupos de trajetórias de sibilância e quatro grupos de trajetórias de obesidade. Além de, uma associação bidirecional positiva entre sibilância e obesidade, apenas no sexo feminino. Assim, uma trajetória de prevalência elevada de obesidade com ligeiro aumento dos 4 aos 22 anos foi associada à sibilância aos 22 anos e, as trajetórias de sibilância transitória precoce e sibilância persistente foram associadas à obesidade aos 22 anos. Por fim, o terceiro artigo, investigou a função pulmonar na idade adulta de acordo com as trajetórias de sibilância e obesidade. Foi observado que as médias de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), capacidade vital forçada (CVF) e a relação entre VEF1/CVF, aos 22 e 30 anos, foram menores nos participantes que tiveram trajetórias com exposição à presença de sibilância em comparação aos sem/infrequente sibilância. Em contrapartida, as diversas trajetórias de obesidade parecem não apresentar alterações estatisticamente significativas nas médias de função pulmonar na idade adulta.