Teses - PPGEpi

Título:

Trajetórias da função pulmonar da adolescência ao início da vida adulta e fatores associados: evidências da coorte de nascimentos de 1993, Pelotas, Brasil

Autor:

Priscila Weber

E-mail:

Área de concentração:

Orientador:

Fernando Wehrmeister

Banca examinadora:

Data da defesa:

24/02/2021

Palavras-chave:

Resumo:

Em uma mesma população, diferentes trajetórias de função pulmonar (FP) podem ser observadas. Os padrões mais relatados são o de declínio precoce e/ou acelerado da FP e aqueles constantemente abaixo da média, os quais, por sua vez, não atingem os valores máximos de FP esperados para a idade adulta jovem. Esses padrões de trajetórias de FP podem ser diferenciados em função de diversas exposições de risco, fatores hereditários, condições socioeconômicas e hábitos adquiridos ao longo do tempo. Durante décadas, apenas o declínio precoce e/ou acelerado da FP estiveram associados a morbidades crônicas e mortalidade prematura. Atualmente, sabe-se que os indivíduos que atingem valores submáximos de FP no início da idade adulta se encontram igualmente em risco. Por isso, estudos têm voltado sua atenção para a trajetória de desenvolvimento da FP que antecede esse momento. No entanto, ainda existem lacunas na literatura acerca desse tema, à medida que poucos estudos longitudinais conseguiram analisar trajetórias de FP, incluindo a sua fase de desenvolvimento e pico, juntamente com os fatores que as determinam ao longo do ciclo vital. A presente tese teve como objetivo principal identificar as trajetórias de FP da adolescência à idade adulta e seus determinantes e, posteriormente, analisar prospectivamente o comportamento de dois fatores de risco, chiado no peito e exposição direta ao fumo, e sua relação com a FP aos 22 anos de idade. O primeiro artigo deste volume consta de uma análise longitudinal das trajetórias de FP dos 15 aos 22 anos de idade e da subsequente caracterização dessas trajetórias, segundo fatores observados desde o período perinatal até a idade adulta. A amostra foi composta por 2.917 participantes da coorte de nascimentos de 1993 de Pelotas que apresentaram dados de espirometria aos 15, 18 e 22 anos. As trajetórias foram construídas com base nos valores padronizados (escore-z) do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), da capacidade vital forçada (CVF) e da relação entre eles (VEF1/CVF). As trajetórias de FP foram construídas a partir de um modelo de trajetórias baseada em grupo do pacote GLLAM (Generalised Linear Latent and Mixed Models) do programa STATA16®. Foram identificadas três trajetórias para cada parâmetro de FP: (1) alta, (2) média e (3) baixa. As trajetórias baixas de VEF1 e CVF foram caracterizadas por menor peso ao nascer e índice de massa corporal (IMC) prégestacional. A trajetória baixa da razão VEF1/CVF foi relacionada à maiores prevalências de exposição ao fumo materno no primeiro trimestre da gestação e fumo ativo aos 18 e 22 anos. As trajetórias baixas de VEF1 e de razão VEF1/CVF se caracterizaram por maiores prevalências de hospitalizações por questões respiratórias na infância (6 meses e 4 anos), relato de chiado no peito nos últimos 12 meses e diagnóstico de asma, especialmente dos 11 aos 22 anos. Maiores prevalências de diagnóstico de alergia e história familiar de asma foram encontradas apenas na trajetória baixa da razão VEF1/CVF. Valores mais altos de IMC/idade em escore-z foram associados à trajetória alta de VEF1 e CVF em todas as idades. O segundo artigo teve por objetivo analisar as trajetórias de chiado no peito da infância à idade adulta (4, 11, 15, 18 e 22 anos), a associação dessas com fatores de risco pré e perinatais, bem como o seu efeito sobre a FP e diagnóstico de asma aos 22 anos. A amostra foi composta por 3.350 indivíduos com medidas de FP pós-broncodilatador aos 22 anos. Seguindo a mesma modelagem estatística, quatro trajetórias de chiado foram observadas: (1) nunca/infrequente, (2) transitória precoce, (3) início tardio e (4) persistente. Além dos parâmetros previamente avaliados, incluiu-se o fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da CVF (FEF25-75%). Através de regressão logística multinomial, história familiar de asma e alergia estiveram associados a maiores odds de pertencer à trajetória persistente de chiado (RO: 2.52; IC 95%: 1.81;3.52 e RO: 1.50; IC 95%: 1.07; 2.09, respectivamente). Aos 22 anos, indivíduos que seguiram essa trajetória apresentaram, em média, -109 ml de VEF1 (IC 95%: -188; -35 ml), – 1.80 pontos percentuais (pp) de VEF1/CVF (IC 95%: -2.73; -0.87 pp) e -316 ml/s de FEF25-75% (IC 95%: -482; -150 ml/s) e maiores chances de desenvolver asma (RO: 12.88; IC 95%: 8.91; 18.61) e eczema (RO: 6.18; IC 95%: 3.59; 10.61) comparativamente ao grupo nunca/infrequente. No mesmo grupo amostral, o terceiro artigo analisou o efeito das trajetórias de exposição ao fumo (materno gestacional e, posteriormente, aos 15, 18 e 22 anos) sobre a FP de adultos jovens. Foram igualmente observadas quatro trajetórias: (1) não expostos, (2) exposição gestacional, (3) exposição gestacional e na idade adulta e (4) exposição contínua. Todas as trajetórias de fumo foram associadas à obstrução do fluxo aéreo aos 22 anos, porém, a trajetória de exposição gestacional e na idade adulta esteve associada à uma maior redução da FP (-1.66 pp de razão VEF1/CVF, IC 95%: -2.28; -1.03 e -255 ml/s de FEF25-75; IC 95%: -366; -145), sugerindo que, embora a exposição gestacional ao tabaco possa causar detrimentos à FP, o hábito de fumar adquirido é um determinante importante de menor FP na idade adulta jovem.