O acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva é fundamental para uma melhor qualidade de vida, estando presente em dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: seja no objetivo três, boa saúde e bem-estar; seja no objetivo cinco, equidade de gênero. Durante os últimos 40 anos, vários países conseguiram aumentar a cobertura de serviços de planejamento familiar. No entanto diferentes níveis de progresso foram identificados. Vários países de baixa renda ainda apresentam baixos níveis de demanda por planejamento familiar satisfeita e, em diversos outros, uma grande parte dessa demanda foi satisfeita com métodos permanentes. Nosso primeiro objetivo foi estimar a proporção de esterilização feminina entre as mulheres com demanda por planejamento familiar satisfeita, bem como avaliar os padrões de desigualdades de acordo com nível de riqueza, idade e número de filhos vivos, considerando também a interseccionalidade entre idade e número de filhos. Nossos resultados indicam que em 20 dos 105 países analisados, 25% ou mais das usuárias de métodos contraceptivos modernos eram esterilizadas, especialmente na Índia, onde 79% da demanda por planejamento familiar foi satisfeita por esterilização feminina. Foi identificada na Índia, na República Dominicana, em El Salvador e no México alta proporção de esterilização feminina entre mulheres com menos de 30 anos. Esta alta proporção foi igualmente identificada entre mulheres com menos de dois filhos vivos, na Índia e em Tonga. No segundo artigo, nosso objetivo foi explorar diferenças na fonte de serviços de planejamento familiar de acordo com a idade da mulher e o seu estado civil. Nossos resultados indicam que a demanda por planejamento familiar satisfeita por métodos modernos ainda é menor entre adolescentes do que entre mulheres adultas, especialmente entre adolescentes não casadas. Uma menor proporção de uso de serviços públicos também foi identificada entre adolescentes. O setor público foi uma fonte ainda menos usada por adolescentes não casadas, para as quais o setor privado foi a principal fonte de serviços de planejamento familiar. Enquanto uma proporção mínima das mulheres adultas recebeu contraceptivos de amigos, familiares ou redistribuição, identificamos que tais fontes foram significativas entre as adolescentes não casadas. O nosso último objetivo foi investigar países que fizeram progressos notáveis na satisfação da demanda por planejamento familiar, explorando mudanças no mix de métodos contraceptivos usados e nos respectivos contextos sociais, por meio de medidas agregadas de pobreza e desigualdade de gênero. Nesta análise, identificamos que nos 9 seis países incluídos, o aumento na demanda por planejamento familiar satisfeita foi acompanhado de reduções tanto na pobreza quanto na desigualdade de gênero. De acordo com nível de riqueza, idade e educação da mulher, os seis países reduziram as desigualdades na cobertura, com um aumento notável entre as mulheres em situação de maior vulnerabilidade. Quanto às estratégias implementadas nesses países, identificamos que a maioria envolveu a inclusão dos serviços de planejamento familiar em serviços de atenção primária, o fornecimento de diferentes tipos de métodos contraceptivos e a promoção de treinamento dos trabalhadores de saúde. Apesar do aumento no nível de demanda por planejamento familiar satisfeita nas últimas décadas, ainda há muito a ser feito para alcançar cobertura universal de serviços de planejamento familiar de qualidade. Conjuntamente, nossos resultados indicam que alguns aspectos foram centrais para o alto nível de cobertura observado em alguns países, como a disponibilidade de uma ampla variedade de métodos e a capacitação dos provedores para atender sem qualquer forma de discriminação as diferentes necessidades de mulheres de diferentes contextos e com diferentes anseios.