A elevada carga de doença atribuída aos transtornos mentais representa um importante problema de saúde pública no mundo. Sabe-se que a ocorrência desses transtornos impacta negativamente a vida dos indivíduos, estando associados a uma série de complicações à saúde e à mortalidade precoce, especialmente em razão do suicídio. Apesar da relevância, os dados sobre a prevalência e os fatores associados a esses transtornos em países de baixa e média renda ainda são escassos. Estudos observacionais têm demonstrado uma associação entre depressão e ansiedade com dieta e obesidade, porém ainda pouco se sabe sobre a direção dessas associações e os possíveis mecanismos envolvidos. Portanto, esta tese teve o objetivo de descrever a prevalência de transtornos mentais e comportamento suicida e de avaliar a associação entre ansiedade e depressão com dieta e adiposidade corporal em adultos jovens (18-22 anos) pertencentes à Coorte de Nascimentos de Pelotas de 1993 (C93). Três artigos originais foram desenvolvidos e compõem a tese. O primeiro descreveu a prevalência de sintomas de transtornos mentais, o comportamento suicida e a relação entre eles, aos 22 anos na C93. A prevalência de sintomas de transtornos mentais, utilizando entrevista diagnóstica semiestruturada (MINI International Neuropsychiatric Interview), foi de 19,1% e de risco de suicídio foi de 8,8%, sendo mais prevalentes nas mulheres. Todos os transtornos mentais estiveram associados ao maior risco de suicídio, especialmente o transtorno depressivo maior e o transtorno do estresse pós-traumático. A maior comorbidade entre os transtornos mentais também esteve diretamente relacionada ao maior risco de suicídio. O segundo artigo avaliou, de forma bidirecional, a associação entre qualidade da dieta, depressão e ansiedade dos 18 aos 22 anos dos integrantes da C93. Foi observada uma associação entre melhor qualidade da dieta aos 18 anos e menor risco de depressão aos 22 anos. A mesma associação no sentido reverso não foi observada, assim como nenhuma relação entre qualidade da dieta e ansiedade. No terceiro artigo, foi explorada a associação entre ansiedade e depressão com adiposidade corporal, medida por meio do índice de massa corporal, circunferência da cintura e índice de massa gorda (avaliado por absorciometria por dupla emissão de raios-x), também de forma bidirecional e a possível mediação por qualidade da dieta, nível de atividade física e inflamação (Proteína C reativa: PCR e Interleucina 6: IL-6). A maior adiposidade corporal aos 18 anos esteve associada ao aumento do risco de ter depressão aos 22 anos, enquanto que a ocorrência de depressão aos 18 anos se associou ao maior risco de obesidade aos 22 anos, mas não se associou às demais medidas de adiposidade avaliadas. Nenhuma relação foi encontrada entre adiposidade corporal e ansiedade. Qualidade da dieta e nível de atividade física não mediaram as associações, enquanto que o nível de PCR mediou cerca de 25% do efeito da depressão na obesidade. Em conjunto, os resultados da tese demonstram que maior adiposidade corporal e consumo de uma dieta de baixa qualidade podem predispor à depressão, embora a associação entre adiposidade corporal e depressão não tenha sido explicada pela dieta. A depressão está associada à obesidade e parte dessa associação é explicada pelo nível de PCR. Este transtorno, assim como os outros avaliados, também se associou ao maior risco de suicídio.