O excesso de peso é considerado uma epidemia global, atingindo cerca de 40% da população mundial. Em mulheres em idade fértil essa frequência pode ser observada em aproximadamente 30%. Evidências indicam que mulheres com sobrepeso e obesidade pré-gestacional possuem menor probabilidade de amamentar e, quando amamentam, a duração é inferior quando comparadas as mães eutróficas ou até mesmo com baixo peso pré-gestacional. Além disso, outra hipótese é de que o Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional materno possa influenciar o IMC da criança ainda em fases iniciais da infância (até 24 meses de idade). Assim, o objetivo desta tese foi compreender a associação entre o estado nutricional materno com a iniciação e o tempo de amamentação e com o estado nutricional da criança aos 12 e 24 meses de idade. Para responder aos objetivos da tese, inicialmente foi realizada uma revisão sistemática de literatura sobre excesso de peso pré-gestacional e cessação da amamentação exclusiva, sendo possível a realização de uma metanálise (medida combinada) desses estudos. Por meio dessa revisão foi possível identificar que o excesso de peso pré-gestacional estava associado a cessação da amamentação exclusiva (antes de seis meses de idade), mesmo tendo sido observado viés de publicação (apenas resultados positivos publicados). Mais dois estudos originais foram desenvolvidos para o estudo da temática. O primeiro teve como objetivo identificar a associação entre sobrepeso e obesidade pré-gestacional e o padrão de amamentação aos três meses e a duração da amamentação até os 12 meses de idade. Esse artigo foi realizado com dados das quatro coorte de nascimento de Pelotas (1982, 1993, 2004 e 2015) sendo que nas coortes de 1982, 1993 e 2004 o IMC pré-gestacional e os padrões de amamentação até os três meses de idade e a duração até os 12 meses não estiveram associados. Entretanto, esta associação esteve presente na coorte de 2015, onde filhos cujas mães tinham maior IMC pré-gestacional apresentaram maior probabilidade de não estarem mamando exclusivamente aos três meses e menor duração de amamentação avaliada aos 12 meses de idade. Por fim, dados longitudinais, apenas da Coorte de 2015, foram utilizados para avaliar a associação entre IMC pré-gestacional e IMC da criança aos 24 meses de idade, bem como o papel mediador da amamentação exclusiva, de introdução alimentar e IMC da criança aos 12 meses na relação entre IMC materno pré-gestacional e IMC da criança 24 meses. Os resultados deste trabalho sugerem que o IMC pré-gestacional materno atua diretamente no IMC da criança aos 12 e 24 meses de idade, mostrando que crianças cujas mães tinham sobrepeso e obesidade pré-gestacional possuem maior odds de ter excesso de peso (IMC/idade, em escore-z, ≥ 2 desvio-padrão) e, ainda, essa associação opera especialmente pelo IMC da criança aos 12 meses de idade. Como conclusão desta tese, é importante salientar que a prevenção do sobrepeso e da obesidade, nas fases anteriores e iniciais da gestação, poderia ser alvo de uma política de saúde considerando a influência dessas condições na amamentação e, também, no IMC da criança. Diversos investimentos para aumentar a prática de amamentação, principalmente a exclusiva, foram empregados ao longo dos anos. Por isso, é importante conhecer e compreender os fatores que ainda podem afetar esse comportamento tão benéfico para a saúde materno-infantil.