O desenvolvimento neuropsicomotor é um processo complexo, relacionado a fatores intrínsecos e extrínsecos, que envolvem desde fenômenos moleculares de expressão gênica até fatores ambientais. Evidências científicas têm demostrado que os eventos que acontecem durante o período pré-natal influenciam a capacidade da criança de responder às demandas do ambiente, impactando sua funcionalidade. No entanto, a maior parte das pesquisas sobre neurodesenvolvimento avaliam a exposição a substâncias químicas, uso de vitaminas e morbidades gestacionais e sua influência em crianças maiores de 24 meses. Apesar do interesse científico nos últimos anos sobre a atividade física na gestação e o potencial efeito no bem-estar da criança, poucos estudos têm avaliado sua associação com o desenvolvimento infantil. Portanto, a presente tese de doutorado teve como objetivo avaliar a associação de fatores socioeconômicos e demográficos, assim como a atividade física na gestação, com o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças pertencentes à Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015, aos 12 meses de idade. Para tal, foram escritos uma revisão sistemática e dois artigos originais, artigos que compõem esta tese. Os achados da revisão sistemática sobre a associação entre atividade física na gestação e o neurodesenvolvimento da prole sugerem que atividade física de lazer pode estar positivamente associada com o desenvolvimento da linguagem nas crianças. No primeiro artigo original, foram analisadas 3747 crianças pertencentes a Coorte de Pelotas de 2015. A suspeita de atraso no neurodesenvolvimento foi avaliado com o instrumento Oxford Neurodevelopment Assesssment (Ox-NDA). Entre os meninos, a maior escolaridade materna foi fator protetor para suspeita de atraso nos domínios da linguagem (RO=0,49; IC95%: 0,33-0,73) e motor (RO=0,51; IC95%: 0,32-0,85). As meninas filhas de mães com idade ≥35 anos apresentaram maior risco de suspeita de atraso no domínio motor (RO=2,98; IC95%: 1,59-5,63) e no escore global (RO=2,61, IC95%: 1,46-4,69). Tanto em meninos como em meninas, o peso ao nascer 3500 gramas apresentou-se como fator protetor para suspeita de atraso no domínio motor (RO=0,44; IC95%: 0,25-0,78 e RO=0,35; IC95%: 0,20-0,61, respectivamente) e no desenvolvimento global (RO=0,37; IC95%: 0,22-0,64 e RO=0,32; IC95%: 0,20-0,50, respectivamente). No segundo artigo original, um total de 1706 crianças com informações do Ox-NDA aos 12 meses de idade, bem como acelerometria e auto-relato da atividade física materna durante a gestação, foram incluídas no estudo. Na análise ajustada, entre os meninos filhos de mulheres que relataram praticar ≥150 minutos/semana de atividade física de lazer observou-se associação protetora contra suspeita de atraso no neurodesenvolvimento (RO=0,50 IC95%: 0,28-0,88). Além disso, os meninos filhos de mulheres no segundo tercil de atividade física moderada/vigorosa mensurada com acelerometria apresentaram um odds ratio para suspeita de atraso no domínio de linguagem 44% menor do que os filhos de mães menos ativas. No caso das meninas, as filhas de mulheres no segundo tercil de atividade física moderada/vigorosa mensurada com acelerometria apresentaram um efeito protetor no domínio motor (RO=0,52; IC95%: 0,28-0,97), em comparação às filhas de mães menos ativas. Em resumo, conclui-se que a escolaridade materna e a atividade física durante a gestação, bem como o peso de nascimento, são características associadas à suspeita de atraso no neurodesenvolvimento dos filhos, aos 12 meses de idade. Porém, a associação varia segundo o sexo e o domínio de neurodesenvolvimento avaliado. Tais achados têm grande relevância para a saúde pública, uma vez que sugerem que a atividade física na gestação pode ser um fator protetor contra o atraso no neurodesenvolvimento infantil.