Sintomas de depressão são comuns entre mulheres no período pós-parto, podendo acarretar consequências negativas tanto para a mãe quanto para a criança. Sintomas de depressão materna podem prejudicara interação mãe-bebê, diminuindo as oportunidades de estímulo ao desenvolvimento infantil e, podendo inclusive, afetar negativamente o início e a continuação da amamentação. Os benefícios da amamentação sobre a saúde infantil e materna são bem conhecidos e abrangem desde a redução da mortalidade e morbidade por doenças infecciosas nos primeiros anos de vida, extendendo-se até a idade adulta, com melhor desempenho escolar e maior Quociente de Inteligência (QI). Para a saúde materna, o ato de amamentar está associado à diminuição no risco de desenvolvimento de doenças crônicas. No que tange a saúde mental das mulheres, a literatura disponível indica a existência de relação entre depressão materna e amamentação, porém não fica claro se os sintomas depressivos levariam a mãe a não iniciar a amamentação ou a parar de amamentar precocemente; ou se o ato de amamentar, através de mecanismos diversos, contribuiria para a prevenção da depressão materna. Além disso, há evidências de que, a longo prazo, os sintomas de depressão estão associados a tomadas de decisão, por parte da mãe, que resultam, entre outros comportamentos, em introdução precoce de alimentos, maior tempo de tela e menos atividade física entre crianças, fatores estes que estão relacionados a maior risco de sobrepeso e obesidade na infância e adolescência. Considerando a alta prevalência de depressão materna em todo o mundo, tanto na gestação como no pós-parto, é importante compreender seu possível papel na composição corporal dos filhos. Portanto, esta tese teve como objetivos: a) investigar a associação entre sintomas de depressão materna e amamentação; e b) avaliar o efeito da depressão materna sobre a composição corporal dos filhos em indivíduos pertencentes à Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004. Para este fim, três artigos foram desenvolvidos para compor a tese. O primeiro artigo avaliou a relação entre depressão materna e amamentação, investigando os efeitos dos sintomas de depressão na gestação sobre a amamentação exclusiva aos três meses, e o efeito da amamentação exclusiva aos três meses sobre a incidência de sintomas depressivos aos 12 meses pós-parto. Nas análises brutas, mulheres que tiveram depressão ou problemas de nervos durante a gestação apresentaram um risco 17% maior de não amamentar exclusivamente aos três meses pós-parto (RR: 0.83; IC95% 0.73; 0.94). Mulheres que estavam amamentando exclusivamente aos três meses tiveram um risco 19% menor de apresentar um escore ≥10 na Escala de Depressão Post-natal de Edimburgo aos 12 meses pós-parto (RR: 0.81; IC95% 0.72; 0.92), comparadas às que haviam cessado a amamentação exclusiva antes dos três meses. Após ajuste para possíveis fatores de confusão (características maternas e da criança), o efeito dos sintomas de depressão na gestação sobre a amamentação exclusiva aos três meses (RR: 0.95; IC95% 0.84; 1.08) e da amamentação exclusiva aos três meses sobre os sintomas de depressão pós-parto aos 12 meses (RR: 0.96; IC95% 0.85; 1.08) não se mantiveram. Análises complementares que avaliaram o efeito de cada possível fator de confusão de forma individual nos resultados das análises brutas foram realizadas. Nestas análises, foi identificada confusão positiva do nível de escolaridade materna sobre as duas associações. Não foi observada interação entre escolaridade e sintomas de depressão durante a gestação (p=0.741) ou amamentação exclusiva aos três meses (p=0.844). Para o segundo artigo foi realizada uma revisão sistemática da literatura que avaliou os efeitos da depressão materna sobre o crescimento dos filhos, em altura e peso, durante a infância. Foi realizada uma ampla busca nas bases de dados PubMed, LILACs, Web of Science, Science Direct and PsyInfo, utilizando palavras chave relacionadas a depressão materna, de acordo com as ferramentas de cada base. Vinte artigos foram incluídos na revisão. No primeiro ano de vida, filhos de mães que apresentavam sintomas de depressão apresentavam um risco aumentado de déficit de peso para a idade e de comprimento para a idade. Após o primeiro ano, a depressão materna permaneceu associada a atraso no desenvolvimento em comprimento/altura dos filhos. A associação do desfecho estudado com sobrepeso e obesidade nos filhos apresentou resultados inconsistentes. O terceiro artigo investigou o feito das trajetórias de depressão materna, dos três meses aos 11 anos após o parto, sobre a composição corporal da criança aos 11 anos, avaliando os seguintes índices: Índice de Massa Gorda (IMG) (kg/m2), Índice de Massa Livre de Gordura (IMLG) (kg/m2), Massa Gorda (MG) (kg e %), Massa Livre de Gordura (MLG) (kg e %) e escore z de Índice de Massa Corporal (IMC) (peso em kg/m2). Cinco trajetórias de depressão materna (―Baixa‖, ―Moderadamente baixa‖, ―Aumentando‖, ―Diminuindo‖ e ―Cronicamente alta‖) foram identificadas através da modelagem semi-paramétrica, baseada em grupos. Análises brutas demonstraram que IMC (escore z), MG (kg) e percentual de MG (%), IMG (kg/m2) e IMLG (kg/m2) eram 0.04±0.06 Kg/m2, 0.16±0.30 kg, 0.03±0.41 pontos percentuais e 0.08±0.13 kg/m2 e 0.07±0.07 kg/m2, respectivamente, mais altos em filhos de mães com trajetória de depressão ―Moderadamente baixa‖ quando comparados aqueles no grupo de ―Baixa‖ sintomatologia. Filhos cujas mães pertenciam à trajetória de sintomas ―Cronicamente alto‖ apresentavam as maiores diferenças para menor IMC (escore z) (-0.20±0.12), MG (-1.25±0.64 kg), MLG (0.40±0.46 kg), MG (%) (-2.02±0.85 pontos percentuais) e IMG (-0.52±0.27 kg/m2), quando comparados a filhos de mães no grupo de ―Baixa‖ sintomatologia. A MLG (%) era 2.02±0.30 pontos percentuais mais alta em filhos de mães no grupo ―Cronicamente alto‖, comparados aos de mães no grupo ―Baixo‖. Após ajuste para características maternas e dos filhos, as trajetórias de depressão materna não se mantiveram associadas aos indicadores de composição corporal dos filhos. Na presente tese, não foram observados efeitos da depressão materna perinatal, episódica ou continuada, sobre a amamentação exclusiva ou composição corporal dos filhos aos 11 anos. A escolaridade materna demonstrou ser um fator de confusão para a associação entre depressão na gestação e amamentação exclusiva, assim como entre amamentação exclusiva e depressão pós-parto.