A violência é um problema de saúde pública mundial que, só em 2016, resultou em mais de 400 mil homicídios e é considerada a principal causa de anos de vida perdidos em homens da América Latina. Além dos impactos sociais e econômicos, a violência também pode resultar em prejuízos a curto e longo prazo sobre a saúde mental. Já a literatura sobre as possíveis consequências da violência na saúde física é escassa, mas alguns estudos sugerem possível relação com obesidade e problemas cardiovasculares. Embora o roubo seja uma das mais importantes formas de exposição a violência comunitária, tanto em países de alta como nos de média e baixa renda, as evidencias sobre a sua relação com transtornos mentais em adultos jovens são limitadas e inexistem para desfechos relacionados à saúde física, como obesidade e hipertensão. O objetivo desta tese foi investigar a experiência de vitimização por roubo em adultos jovens de Pelotas pertencentes à coorte de nascimento de 1982 e explorar a sua relação com transtornos mentais, composição corporal e pressão arterial aos 30 anos. O primeiro artigo avaliou a prevalência de transtornos mentais em adolescentes, jovens e adultos e sua relação com características sociodemográficas em cinco coortes de nascimento (RPS): Ribeirão Preto (São Paulo), Pelotas (Rio Grande do Sul) e São Luís (Maranhão), Brasil, onde observou-se não só a elevada frequência de episódio depressivo maior atual, do risco de suicídio, da fobia social e da ansiedade generalizada como problema de saúde pública, bem como corrobora que a variação destes transtornos pode depender do sexo do indivíduo, da localidade de ocorrência e da condição socioeconômica. O segundo artigo avaliou a relação entre vitimização por roubo com a presença de transtornos mentais aos 30 anos e os principais resultados do estudo sugerem influência acumulativa da vitimização por roubo sobre episódio depressivo maior atual (EDM-A), transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e com a comorbidade EDM-A e TAG. Por fim, o terceiro artigo avaliou a relação da vitimização por roubo com a composição corporal e os níveis tensionais aos 30 anos. Na análise ajustada, observamos associação negativa de vitimização por roubo até os 30 anos com o percentual de massa livre de gordura e pressão arterial diastólica, bem como a associação negativa de vitimização por roubo nos últimos 10 anos com o percentual de massa livre de gordura e pressão arterial sistólica e diastólica. De forma geral, os principais resultados desta tese reforçam a associação entre roubo e transtornos mentais, bem como apontam à necessidade de mais investigações para explorar a possível relação entre vitimização por roubo e saúde física. Portanto, dada a elevada magnitude de problemas relacionados à saúde mental, à obesidade e às doenças cardiovasculares, especialmente em países de baixa e média renda, onde a violência comunitária é cada vez mais desafiadora, medidas que visem a prevenção, redução ou mitigação das consequências decorrentes da exposição à violência comunitária parecem oportunas e prioritárias.