O período gestacional exige mais energia e maior demanda nutricional de micronutrientes, e embora a ingestão adequada de alimentos continue sendo o meio preferencial para atender tais demandas, algumas necessidades são difíceis de alcançar na gravidez apenas com a dieta. Nesse sentido, em resposta à algumas deficiências, alguns países fortificam alimentos selecionados e/ou recomendam o uso de suplementos no período pré-natal. No Brasil, o Ministério da Saúde promove algumas ações e programas de suplementação que abrangem o grupo das gestantes e objetivam reduzir as carências nutricionais. Nesse sentido, diretrizes atuais da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde preconizam a suplementação de rotina com ferro e ácido fólico em todas as gestantes, como forma a satisfazer as necessidades fisiológicas destes micronutrientes. Entretanto, apesar dos benefícios dessa prática para as gestantes, alguns estudos têm sugerido que a suplementação de ferro em mulheres não-anêmicas no início da gestação, pode trazer efeitos adversos, como maior risco de desenvolver diabetes gestacional. Utilizando dados da Coorte de Nascimentos de 2015 de Pelotas, essa tese teve como objetivos principais avaliar o uso de vitaminas, compostos de ferro e ácido fólico durante os trimestres da gestação e verificar se havia desigualdade socioeconômica na utilização; e avaliar se as gestantes não-anêmicas que utilizaram suplementos de ferro estavam em maior risco de desenvolver diabetes mellitus gestacional que aquelas que não utilizaram a suplementação. Os resultados do primeiro artigo demonstraram que 30% das mulheres avaliadas não utilizaram suplementação de ácido fólico e ferro durante a gestação. As gestantes mais pobres apresentaram maior prevalência de uso de ferro. Por outro lado, o ácido fólico apresentou maior prevalência de uso entre as mães mais ricas, apontando desigualdade socioeconômica contra as menos favorecidas. O segundo artigo avaliou a associação entre o uso de suplementos de ferro entre as gestantes e o risco de desenvolver diabetes gestacional. O mesmo tema foi avaliado através do terceiro artigo, que foi uma revisão sistemática da literatura. Os resultados destes estudos sugerem que o uso de ferro de rotina em gestantes não anêmicas não aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes gestacional. Também foi produzido um artigo de validação sobre a validade do autorrelato de anemia e do uso terapêutico de suplementos de ferro durante a gravidez e, embora a sensibilidade e a especificidade de ambos não sejam altas, os dois autorrelatos avaliados poderão ser úteis em estudos populacionais entre puérperas em cidades brasileiras de porte médio com contextos sociais e de atenção ao pré-natal semelhantes aos de Pelotas.