Teses - PPGEpi

Título:

Uso de Medicamentos durante a Gestação e Lactação na Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015

Autor:

Bárbara Heather Lutz

E-mail:

Área de concentração:

Orientador:

Andrea Dâmaso

Banca examinadora:

Camila Giugliani, Bernardo Horta e Iná Santos

Data da defesa:

30/09/2020

Palavras-chave:

Coorte 2015

Resumo:

O uso de medicamentos por mulheres durante a gestação e lactação é uma prática muito frequente. Considerando o fato de que o uso de medicamentos nestas fases pode ter influência também na saúde da criança, a informação sobre seu uso durante a vida reprodutiva é importante para todos. A falta de informações claras sobre este assunto resulta em situações em que o tratamento é interrompido ou usado em doses reduzidas por mulheres grávidas ou lactantes, enquanto que, por outro lado, medicamentos com potenciais efeitos tóxicos são ingeridos, o que torna o tema um problema de saúde pública que deve ser abordado. Além disso, independentemente da indicação de medicamentos para doenças agudas ou crônicas pré-existentes, alguns medicamentos são recomendados rotineiramente durante a gravidez no Brasil, como o sulfato ferroso e o ácido fólico, desde o período pré concepcional e principalmente no primeiro trimestre da gestação Utilizando dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015, essa tese teve como objetivos descrever o uso de medicamentos pelas gestantes cujos filhos participaram do estudo, descrever o uso de medicamentos por essas mulheres na fase inicial da lactação e sua relação com o desmame e avaliar a relação do uso de ácido fólico durante a gestação e a ocorrência de depressão pós-parto. Os resultados do primeiro artigo demonstraram que a prevalência de uso de medicamentos foi de 92,5%, excluindo sais de ferro, ácido fólico, vitaminas e outros minerais. A prevalência de automedicação foi de 27,7%. Na análise ajustada, as mulheres que tiveram três ou mais problemas de saúde durante a gravidez demonstraram maior uso de medicamentos. A automedicação foi mais frequente nos grupos de baixa renda, entre fumantes e multíparas (três gestações ou mais). Paracetamol, escopolamina e dimenidrinato foram os medicamentos mais usados. O segundo artigo teve como objetivo descrever o uso de medicamentos pelas mães do nascimento até o terceiro mês pós-parto, avaliar a sua associação com o desmame e descrever os comportamentos destas mulheres em relação à amamentação e uso de medicamentos. O uso de medicamentos com algum risco para a lactação foi frequente (79,6% considerando as Categorias de Risco na Lactação de Hale e 12,3% considerando os critérios do Ministério da Saúde do Brasil). Não encontramos diferenças estatisticamente significativas para o desmame aos 6 ou 12 meses entre o grupo que não fazia uso de medicamentos ou usava apenas medicamentos compatíveis e o grupo que usava medicamentos com algum risco para a lactação, segundo ambos os critérios. Quanto aos comportamentos analisados, 10,6% das mães participantes do estudo responderam que optaram por não usarem medicamentos por estarem amamentando e 2,8% delas pararam de amamentar devido ao uso de algum medicamento. Entre as mães que não amamentaram, 10,2% delas relataram que o uso de medicamentos foi o motivo para a criança não ter sido amamentada. Adicionalmente, foi realizada uma análise sobre o uso de anticoncepcionais hormonais e sua relação com a duração da amamentação. Na análise ajustada, houve proteção para o desmame dos três aos seis meses pós-parto entre as mulheres que usaram o grupo de anticoncepcionais somente com progestagênio. O terceiro artigo teve como objetivo verificar se a suplementação de ácido fólico durante a gravidez está associada com a ocorrência de sintomas depressivos aos três meses pós-parto na Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015. As mulheres foram classificadas em três grupos: sem suplementação de ácido fólico, uso durante apenas um trimestre da gestação e uso durante dois ou três trimestres. Os sintomas depressivos maternos foram avaliados aos três meses pós-parto através da Escala de Depressão Pós-natal de Edimburgo (EPDS). A prevalência do escore >=10 na EPDS foi de 20,2% e >=13 foi de 11%. Mulheres que não utilizaram ácido fólico na gestação tiveram maior prevalência de sintomas depressivos, porém, nas análises ajustadas, não houve associação estatisticamente significativa entre o uso de ácido fólico na gestação e a ocorrência de sintomas depressivos aos três meses pós-parto, considerando os dois pontos de corte. O estudo apresentou o padrão do uso de medicamentos durante a gestação e lactação em uma amostra de base populacional em uma cidade de médio porte, demonstrando uma alta prevalência de automedicação na gravidez e uma prevalência elevada de uso de medicamentos com algum risco para a lactação até três meses pós-parto, embora não tenha sido comprovada associação do uso desses medicamentos com o desmame. Também realiza uma análise sobre outro possível benefício do uso de ácido fólico durante a gravidez, apesar da perda de significância estatística após o controle para fatores de confusão. Este estudo pode contribuir para o reconhecimento de práticas indevidas e aumento do uso seguro de fármacos nessa fase, além de destacar a importância da suplementação de ácido fólico na gestação.