A asma e a cárie dentária são doenças crônicas de alta prevalência, tendo o início de sua ocorrência na infância, afetando grande parte da população mundial comprometendo a qualidade de vida dos indivíduos. Apesar de alguns estudos indicarem associação entre estas situações, a relação causal é controversa na literatura. Considerando a possibilidade de associação das doenças ser causal, os medicamentos antiasmáticos têm sido discutidos como fator principal, uma vez que possuem efeito xerostômico (boca seca) favorecendo o desenvolvimento de lesões de cárie dentária. Nesta tese, objetivou-se revisar sistematicamente a literatura sobre a relação da cárie dentária e asma e obter uma medida do efeito da asma sobre a cárie dentária considerando a influência dos aspectos metodológicos dos mesmos na estimativa gerada (artigo 1). Além disso, foram investigados os mecanismos os quais explicariam essa relação, avaliando os possíveis efeitos diretos e indiretos dos sintomas de asma na cárie dentária na dentição decídua (artigo 2). Apesar dos medicamentos serem indicados como fator determinante nessa relação, seu uso se dá, geralmente, após diagnóstico médico, que por sua vez, ocorre frequentemente em indivíduos que apresentam os sintomas da doença ao longo da vida. Considerando o supracitado, foi avaliado o efeito do tempo de diagnóstico e da trajetória dos sintomas relacionados a asma durante a vida, com cárie na dentição permanente (artigo 3). Dados da literatura acerca do tema, foram utilizados para o desenvolvimento do artigo 1. Amostras das coortes de nascimentos de Pelotas dos anos de 2004 (aos 6 anos na dentição decídua – artigo 2) e de 1993 (aos 18 anos na dentição permanente – artigo 3) foram utilizadas para atender os objetivos dos artigos 2 e 3 na presente tese. Considerou-se a hipótese que os indivíduos asmáticos teriam maior ocorrência da doença cárie seja por via direta ou mediada. No artigo 1, verificamos que a literatura indica uma associação positiva sendo a chance de ter cárie nos indivíduos asmáticos cerca de 50% maior que nos indivíduos sadios (Odds Ratio: 1,45 e 1,52, para dentições decídua e permanente respectivamente). Contudo, os resultados são provenientes de estudos com deficiências metodológicas e não exploram os mecanismos causais. No artigo 2, ao analisarmos os possíveis caminhos aos quais a asma estaria relacionada com a cárie na dentição decídua, encontramos que não há influência direta, indireta ou mediada da asma na ocorrência de lesões de cárie dentária. Além disso, os fatores socioeconômicos e comportamentais foram os principais determinantes da doença, mesmo em indivíduos com problemas respiratórios. No artigo 3, verificamos que da mesma forma que na dentição decídua, na dentição permanente os sintomas de asma ao longo da vida (chiado no peito persistente) e o diagnóstico não influenciam na ocorrência de lesões de cárie na dentição permanente aos 18 anos. Os estudos originais contrariam o indicado na revisão sistemática da literatura, demonstrando que não há efeito da asma sobre a ocorrência da cárie dentária nas dentições decídua e permanente, sendo preponderante os fatores socioeconômicos e comportamentais na ocorrência da doença independente do estado de saúde respiratória. Apesar de não serem consistentes com a revisão os artigos originais são de alto rigor metodológico suprindo algumas deficiências encontradas, sugerindo que apesar de haver uma relação entrea as doenças ela não é causal.