A capacidade cognitiva é um determinante importante para o desempenho futuro da criança e os dois primeiros anos de vida são um período crítico para o desenvolvimento do cérebro. Período que pode ser afetado por múltiplos fatores, biológicos, sociais e do ambiente, podendo levar às crianças ao fracasso de atingir todo o seu potencial cognitivo. Por outro lado, são poucos os estudos longitudinais e de base populacional em países de renda média e baixa, como o Brasil, que estudam os determinantes precoces da capacidade cognitiva na infância. Usando os dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004, objetivou-se identificar quais são os determinantes precoces e da infância associados ao QI (Quociente Intelectual) de crianças aos 6 anos de idade. Numa primeira abordagem, o objetivo foi determinar as características precoces (da etapa perinatal e do primeiro ano de vida da criança) que melhor predizem um desempenho cognitivo baixo aos 6 anos. Baseados numa estratégia de modelagem preditiva foram identificados como preditores precoces o sexo da criança, cor da pele dos pais, número de irmãos, trabalho paterno e materno, renda familiar, escolaridade materna, pessoas por quarto, duração da amamentação, déficit de crescimento, tabagismo dos pais na gravidez e a percepção materna da saúde da criança. O modelo apresentou bom ajuste e uma boa discriminação, área sob a curva ROC=0.80 (IC95% 0.79 – 0.82). Posteriormente, investigaram-se os efeitos da estimulação cognitiva da criança e a depressão materna sobre o QI aos seis anos de idade. Os resultados demostraram que a estimulação teve um efeito positivo no QI, e a depressão materna um efeito negativo no QI da criança. Um efeito cumulativo foi descrito para a estimulação da criança e a depressão materna. O efeito da estimulação se apresentou diferente de acordo com níveis de escolaridade materna, onde se observou que existe um efeito no QI crescente da estimulação sobre o aumento da escolaridade, partindo de não efeito para mães de baixa escolaridade e chegando a mais 0.17 DP no QI por cada aumento em um ponto de estimulação nas mães com 12 anos ou mais de escolaridade. Adicionalmente foi comprovado que parte do efeito da escolaridade materna foi mediado pela estimulação da criança. Finalmente, realizou-se uma revisão da literatura abrangente para identificar e resumir o conhecimento relacionado com os determinantes da capacidade cognitiva na infância. Os achados mostram que são poucos os estudos realizados em países de renda média e baixa e os principais fatores identificados foram relacionados com as condições socioeconômicas, a condição de saúde prénatal e perinatal, o crescimento na infância, a amamentação e a qualidade do cuidado da criança e estimulação.