O Brasil é o segundo maior produtor mundial de tabaco em folha e o campeão em exportação de fumo. A produção nacional do tabaco está concentrada na região sul do país, onde o estado do Rio Grande do Sul é responsável por 50% desta produção. O cultivo do fumo, no Brasil, é realizado por agricultores familiares de forma artesanal e rudimentar. O ciclo de produção extende-se por todo o ano, iniciando com o preparo da terra, o plantio das mudas, colheita da folha, secagem e, terminando com o enfardamento para a venda. Durante estas etapas, o trabalhador está exposto a diversas cargas de trabalho, sendo a carga química uma constante fonte de exposição durante todo o processo de produção. O uso de agrotóxicos e o contato com a nicotina, seja pelo manuseio da folha verde do fumo ou inalando a poeira do fumo seco, são agressores do sistema respiratório e expõe os trabalhadores a altas doses de nicotina. Ademais, os censos nacionais mostram que há uma maior prevalência de tabagismo na área rural, o que aumenta o risco de doenças respiratórias. A asma é uma doença crônica comum das vias aéreas caracterizada por uma complexa interação de obstrução ao fluxo aéreo, hiper-reatividade brônquica e inflamação subjacente que desencadeiam episódios recorrentes de tosse, chiado e falta de ar. A crise de asma incapacita o fumicultor para o trabalho, uma vez que o cultivo do fumo exige grande esforço físico e expõe o trabalhador a poeiras orgânicas e inorgânicas, exacerbadoras da asma. Sua prevalência em trabalhadores rurais é variável, oscilando entre 2 e 10%, devido a grande variabilidade de desfechos utilizados pelos estudos. Não foram encontrados estudos sobre asma em agricultores plantadores de fumo, são parcos os que descreveram a prevalência de tabagismo neste grupo de trabalhadores e, em um número um pouco maior, os que aferiram os níveis de cotinina durante o cultivo do fumo. Objetivos: Redigir três artigos científicos: o primeiro para analisar a prevalência e os fatores associados à asma entre os fumicultores, o segundo para investigar a prevalência de tabagismo e seus fatores associados neste grupo de trabalhadores e o terceiro busca realizar uma revisão sistemática sobre níveis de cotinina urinária em fumicultores, durante a colheita da folha de fumo. Métodos: os dois primeiros estudos utilizaram o banco de dados de um estudo de delineamento transversal, realizado em 2469 fumicultores maiores de 18 anos, no município de São Lourenço do Sul, RS. Asma foi definida como chiado no último ano, considerou-se tabagista aquele que fumava pelo menos um cigarro por dia há mais de um mês. A revisão sistemática seguiu o PRISMA guidelines e, buscando em divesas bases de dados, incluiu estudos que apresentavam valores de cotinina urinária coletados no momento da colheita da folha do tabaco. Resultados: A prevalência de chiado no último ano foi de 11,0% para ambos os sexos. Entre os homens, idade, tabagismo, trabalho intenso, uso de pesticidas, contato com poeira vegetal e poeria do fumo, carregar as varas de fumo para dentro dos galpões e doença da folha verde no ano anterior ao estudo foram fatores de risco par asma. Entre as mulheres, história familiar de asma, fazer manocas, trabalho intenso, contato com desinfetantes químicos e doença da folha verde no ano anterior estiveram positivamente associados com asma. A colheita da folha baixa de fumo foi fator de proteção para asma em ambos os sexos. Tabagismo atual foi referido por 31,2% dos homens e 3,1% das mulheres. Entre homens, tabagismo associou-se diretamente à idade, escolaridade, renda, ser bebedor pesado, tempo de trabalho na fumicultura e tempo de exposição a pesticidas. Relação de trabalho foi um fator de risco para tabagismo e participar de atividades religiosas um fator de proteção. A revisão sistemática apontou que fumicultores apresentam valores de cotinina urinária superiores a população não exposta, para ambos os sexos, em fumantes e não fumantes. Nos estudos que coletaram a cotinina em diferentes momentos, houve um pico da substância no período entre 24 e 37 horas após o início da colheita do fumo. Fatores ocupacionais como o uso de equipamentos de proteção e a umidade do ar no dia da colheita mostraram-se associados à absorção da nicotina. Conclusão: A alta prevalência de tabagismo entre homens fumicultores, a constatação de que estes trabalhadores absorvem elevadas quantidades de nicotina nos diversos ambientes de trabalho e as diversas comorbidades que afetam estes trabalhadores, como a asma, ressaltam a importância do Artigo 18 da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, que trata da proteção ao meio ambiente e à saúde das pessoas, apontando a necessidade de definir políticas públicas de proteção à saúde dos fumicultores. A produção artesanal do tabaco expõe o trabalhador de forma intensa e constante à nicotina, o que evidencia a necessidade de estudos sobre os efeitos da exposição crônica à nicotina nestes trabalhadores.