A adiponectina, proteína produzida por adipócitos maduros, tem sua concentração paradoxalmente reduzida em indivíduos obesos. Estudos em animais indicam que essa proteína aumenta a sensibilidade à insulina e inibe o processo inflamatório e aterosclerótico. Contudo, o efeito cardioprotetor da adiponectina ainda não foi demonstrado de forma clara em seres humanos. Investigar os fatores que modulam a concentração de adiponectina e o papel dessa proteína na etiologia das doenças cardiovasculares em seres humanos é de grande interesse para a melhor compreensão da relação da obesidade com morbidades crônicas e para fins terapêuticos. Esta tese teve como objetivo avaliar a associação da distribuição de gordura corporal com a concentração sanguínea de adiponectina e o efeito da proteína sobre fatores de risco e sobre a incidência de doenças cardiovasculares em adultos. Três artigos compõem a tese. No primeiro artigo, investigou-se a relação entre distribuição de gordura corporal e adiponectinemia. Para isso, foram utilizados dados da coorte de nascimentos de Pelotas de 1982 e meta-dados de dois consórcios genéticos internacionais (GIANT e ADIPOGen). Os resultados indicam que a redução da concentração de adiponectina em indivíduos obesos ocorre essencialmente pela expansão do tecido adiposo central e não pelo acúmulo de gordura gluteofemoral. No segundo artigo, explorou-se o efeito da concentração circulante de adiponectina sobre o perfil metabólico de mais de 10.000 indivíduos usando a técnica de aleatorização mendeliana. Esse estudo incluiu dados de participantes da coorte de Pelotas de 1982 e de outros quatro estudos conduzidos no Reino Unido (British Women Heart and Health Study, Whitehall-II Study, The Caerphilly Prospective Study e The United Kingdom Collaborative Trial of Ovarian Cancer Screening nested case-control study). Os resultados desse artigo sugerem que a adiponectina não promove diretamente um perfil metabólico cardioprotetor e que resultados de estudos observacionais convencionais provavelmente estão sujeitos ao efeito de confundimento por fatores como obesidade e resistência à insulina. No terceiro artigo, avaliamos o envolvimento da adiponectina na etiologia de doenças cardiovasculares, especificamente de doença arterial coronariana, usando a técnica de aleatorização mendeliana com meta-dados de seis consórcios genéticos (CARDIoGRAM, CARDIoGRAMplusC4D, ADIPOGen, GIANT, MAGIC e GLGC) contendo informação de dezenas de milhares de indivíduos. Os resultados desse artigo não indicam que maiores concentrações de adiponectina tenham o potencial de reduzir o risco de doenças cardiovasculares na população. Em resumo, os achados desta tese apontam que a produção de adiponectina pelo tecido adiposo é modulada de forma diferente dependendo da localização desse tecido e que a concentração sanguínea de adiponectina não parece ter efeito protetor contra doenças cardiovasculares em seres humanos.