Os acidentes representam um problema de saúde mundial e constituem a primeira causa de morte em crianças e em adultos jovens, em quase todos os países. A maioria dos acidentes na infância são não intencionais e compreendem os acidentes de trânsito, quedas, queimaduras, afogamentos e intoxicações, que acarretam desde incapacidade física temporária, até sequelas mais graves e permanentes ou mesmo a morte. A identificação dos fatores de risco, de acordo com o estágio de desenvolvimento da criança e dos hábitos comportamentais comuns ao período de idade, são importantes para a formulação de programas de prevenção dirigidos a cada faixa etária. O baixo nível socioeconômico, supervisão inadequada, estresse familiar e condições impróprias de moradia são reconhecidos fatores predisponentes a acidentes na infância. Características da personalidade infantil, como hiperatividade, agressividade, impulsividade e distração também influenciam a ocorrência de acidentes. Sendo assim, esta tese teve como objetivo avaliar a ocorrência de quedas, cortes e queimaduras até os quatro anos de idade, conforme nível econômico da família e idade e escolaridade maternas, entre as crianças da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004. As quedas foram os acidentes mais relatados nos períodos de 0-12, 12-24 e 24-48 meses de idade, seguidas dos cortes e queimaduras. Os meninos sofreram mais quedas e cortes do que as meninas nos dois primeiros anos de vida. No segundo ano de vida, a incidência de quedas e queimaduras praticamente triplicou e a de cortes dobrou, em comparação ao primeiro ano, em ambos os sexos. As queimaduras ocorreram com igual frequência entre meninas e meninos nos três períodos de idade analisados. A associação entre depressão materna e incidência de acidentes na infância foi também explorada. A incidência de acidentes entre 24-48 meses de idade foi maior entre crianças filhas de mães com sintomas depressivos na gestação e aos 12 e 24 meses, em comparação às crianças de mães que não apresentaram sintomas em nenhuma das três ocasiões. Na análise ajustada, a razão de taxas de incidência entre meninas filhas de mães com sintomas depressivos na gestação e Escala de Depressão de Edimburgo (EPDS) ≥ 13 aos 12 e 24 meses foi de 1,37 (1,12-1,58); e, entre os meninos, de 1,16 (1,01-1,34). Como conclusão, esta tese encontrou altas taxas de quedas, cortes e queimaduras até os quatro anos de idade, sendo estas mais elevadas entre os meninos e entre meninas filhas de mães deprimidas.