Teses - PPGEpi

Título:

Acidentes de trabalho e hipertensão arterial sistêmica em fumicultores de São Lourenço do Sul, RS

Autor:

Adriana Zago

E-mail:

Área de concentração:

Orientador:

Anaclaudia Fassa

Banca examinadora:

Elaine Tomasi, Jandira Maciel e Luiz Augusto Faccini

Data da defesa:

31/03/2017

Palavras-chave:

agrotóxicos; hipertensão arterial sistêmica; trabalhador rural; fumicultura; acidente de trabalho;

Resumo:

Pouco se conhece sobre o acidente de trabalho e a hipertensão arterial sistêmica (HAS) em área rural brasileira. O presente estudo faz parte da segunda etapa de projeto maior, e objetivou determinar a prevalência e fatores associados aos acidentes de trabalho e da HAS com ênfase no processo de trabalho, principalmente à exposição aos agrotóxicos entre fumicultores no município de São Lourenço do Sul, RS. Estudo transversal foi conduzido em outubro de 2010, com 492 fumicultores que relataram ter aplicado agrotóxico no ano anterior à pesquisa e trabalharam 15 ou mais horas semanais na fumicultura. A entrevista abordou variáveis socioeconômicas, demográficas, comportamentais, e ampla caracterização do processo de trabalho, uso de agrotóxicos e de problemas de saúde. Foram utilizadas cartelas de identificação dos agrotóxicos com objetivo de facilitar o recordatório dos fumicultores em relação aos agrotóxicos aplicados na lavoura. Para o estudo de acidentes de trabalho, considerou-se a ocorrência de acidente de trabalho na vida referida pelo entrevistado, o tipo de lesão e limitações decorrentes, caracterizando para o acidente de maior gravidade. Para o estudo de HAS, o diagnóstico de foi feito por médicos treinados para o estudo, considerando o diagnostico prévio de HAS, uso de medicação anti-hipertensiva e a medida de pressão arterial (PAS>=140 e/ou PAD>=90 mmHg. Foi construído o escore acumulado de exposição aos agrotóxicos baseado no estudo de Dosemeci e cols. (2002) e considerou-se a forma de aplicação, preparo da calda, limpeza dos equipamentos, transporte dos agrotóxicos, acesso a lavoura após aplicação, lavagem das roupas utilizadas na aplicação, uso de equipamento de proteção individual e tempo de exposição aos agrotóxicos. Foi utilizado a regressão de Poisson seguindo um modelo hierárquico. A prevalência de acidentes de trabalho na vida foi de 24% entre 488 indivíduos acima de 18 anos. Foi encontrada associação positiva com o sexo masculino (RP1,62IC-95%1,04-2,52), ser arrendatário (RP1,87IC-95%1,29-2,72), realização de manocas (RP2,00IC-95%1,14-3,52) e problemas psiquiátricos menores (RP1,58IC-95%1,06-2,35). Dentre os acidentes que a pessoa considerou o mais grave, 46% foram superficiais e 26% resultaram em fraturas. Entre os acidentados, 12% apresentaram perda de movimento de algum membro, 7,6% sofreram amputação e 3,8% tiveram perda de visão. A prevalência de HAS foi de 18,5% em 482 indivíduos com idade superior a 20 anos. 52.5% dos entrevistados tinham menos de 39 anos, 10% eram negros e 87% tinham menos de 8 anos de estudo. O risco dos indivíduos acima de 40 anos foi 4.8 vezes maior de serem hipertensos (IC95%1,88-12,28), comparados aos indivíduos com até 29 anos. A cor negra conferiu risco de 2,4 (IC95%1,30-4,46). O risco de apresentar HAS entre os que lavavam as roupas utilizadas durante a aplicação de agrotóxicos foi 53% (IC95%1,07-2,17) e entre os que apresentaram diagnóstico médico de intoxicação aguda por agrotóxicos foi de 62% (IC95% 1,05-2,50). O sobrepeso/obesidade conferiu risco de 1.89 para HAS (IC95%1,23-2,89). Não foi encontrada associação entre sexo, consumo de risco de bebida alcoólica, tabagismo e esforço físico durante o trabalho com a HAS. O escore acumulado de exposição aos agrotóxicos apresentou associação positiva com HAS entre os indivíduos abaixo de 40 anos de idade. Entre os indivíduos acima de 40 anos esta tendência não foi observada. Pode-se concluir que a alta prevalência de acidentes e de HAS encontrada, indica que são necessárias políticas de prevenção de acidentes, investimento na mecanização da cultura e educação sobre riscos do uso de agrotóxicos e no uso apropriado de equipamento de proteção individual. Observa-se que, além dos fatores de risco conhecidos para HAS, como idade e obesidade, a exposição ocupacional aos agrotóxicos pode estar contribuindo para o desenvolvimento precoce da HAS no meio rural. O foco da revisão sistemática foi a associação entre exposição crônica aos agrotóxicos e o desenvolvimento das doenças cardiovasculares (DVC). Foram selecionados 25 artigos e encontrou-se associação positiva entre alguns agrotóxicos da classe dos organofosforados, Clorpirifós e Coumafós, herbicidas, fungicidas, organofosfatos e carbamatos com o infarto agudo do miocárdio. Diazinon, matalhion parathion e clorpirifós estiveram associados com hipertensão gestacional; e os piretróides com o aumento da pressão arterial. A exposição aos poluentes orgânicos persistentes foi associada a doença arterial periférica e risco de mortalidade cardiovascular. Estes achados apontam para risco de DCV entre os expostos cronicamente aos agrotóxicos, sugerindo a necessidade de maior controle ao uso destes químicos.