Seminários e Defesas

189ª BANCA DEFESA DE TESE DE DOUTORADO - 07/05/2025

“Associação independente, estratificada e conjunta entre atividade física e comportamento sedentário com desfechos cardiovasculares em adultos e idosos

Aluno(a): Charles Philipe de Lucena Alves

Orientador(a)Prof. Dr. Inácio Crochemore Mohnsam da Silva

Banca: Prof. Dr. Daniel Umpierre (UFRGS); Prof. Dr. Pedro Rodrigues Curi Hallal (PPGEPI/Universidade de Illinois); Profa. Dra. Bruna Gonçalves Cordeiro da Silva (PPGEPI/UFPEL)

Local: Auditório A 
 

Hora: 14:00h                                                

       

                                                       Atividade física e comportamento sedentário : implicações para saúde cardiovascular


     As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e representam um grande desafio para a saúde pública. Por isso, entender e controlar os fatores de risco, como pressão alta, obesidade, elevada circunferência da cintura, e outros indicadores cardiometabólicos (e.g., a soma dos indicadores mencionados) é essencial para prevenir o agravamento desses problemas. Entre os comportamentos que podemos mudar para auxiliar nesses aspectos, ganham destaque o nível de atividade física e o tempo que passamos sentados ou deitados (sem contar o tempo de sono). Enquanto se movimentar regularmente ajuda a proteger a saúde, passar muitas horas sentado pode aumentar o risco de doenças. 

     Para investigar melhor essa relação, estudos têm utilizado diferentes estratégias de análise: 1) avaliando o efeito isolado de cada comportamento, 2) estratificando os resultados por níveis de atividade física ou 3) combinando os dois comportamentos. Essas análises mostram que o excesso de tempo sentado aumenta o risco cardiovascular, principalmente entre quem pratica pouca atividade física. Já se manter ativo ajuda a reduzir os danos, mas não elimina completamente o efeito negativo do tempo sentado. O pior cenário é a combinação de muita inatividade com pouca movimentação. No entanto, a maioria dessas pesquisas foram feitas em países ricos, e ainda faltam estudos em países como o Brasil (país de baixa-média renda), bem como utilizando diferentes abordagens estatísticas. 

     Pensando nisso, os pesquisadores Charles Lucena (Universidade Federal de Pelotas), Eduardo Caldas Costa (Univerisdade Federal do Rio Grande do Norte) e Inácio Crochemore (Universidade Federal de Pelotas), junto com outros pesquisadores do Brasil e do mundo, buscaram entender como o tempo sentado e a atividade física se associam aos fatores de risco cardiovascular (e.g., pressão arterial, circunferencia da cintura, etc.) e aos eventos cardiovasculares maiores (e.g,, mortalidade, infarto agudo do miocárdio, etc.) em uma população adulta e idosa no Sul do Brasil. 

     O nosso estudo de revisão sistemática, basicamente mostrou que o aumento dos níveis de atividade física está inversamente associado com a eventos cardiovasculares, ou seja, quanto maior o nivel de atividade física, menor é a probabilidade de algum evento cardiovascular. Enquanto que um maior nível de comportamento sedentário está associado com uma maior probabilidade de eventos cardiovasculares. Encontramos, também, que você ter altos níveis de atividade física não elimina, por completo, o efeito danoso do comportamento sedentário. 

     Um dos estudos, realizado com uma população idosa na cidade de pelotas, com faixa etária de 60-80 anos, durante quase 3 anos, demonstrou que a prática de atividade física está consistentemente associada a um menor risco de desenvolver doenças cardiovasculares, enquanto o tempo excessivo em comportamento sedentário pode aumentar esse risco, especialmente entre as pessoas menos ativas. Mesmo assim, a atividade física não elimina completamente os efeitos negativos do sedentarismo, e o pior cenário para a saúde cardiovascular é a combinação de pouca atividade física com muito tempo sentado. Por outro lado, um outro estudo realizado na coorte de 1982 na cidade de Pelotas, não encontrou associação clara entre o tempo sedentário e fatores de risco cardiometabólicos após os devidos ajustes estatísticos, sugerindo que os efeitos do tempo sentado, bem como atividade física, podem variar conforme o desfecho analisado e o contexto da população estudada.  

     Em conclusão, os pesquisadores destacam que os resultados reforçam a importância de reduzir o tempo sentado e manter uma rotina regular de atividade física para proteger a saúde do coração — evidência essa baseada, em grande parte, em estudos realizados fora do Brasil. De modo geral, adotar hábitos mais ativos no cotidiano pode ser uma estratégia simples e eficaz para prevenir doenças cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida de adultos e idosos. No entanto, é importante reconhecer que, no contexto brasileiro, manter uma rotina fisicamente ativa nem sempre é uma questão de escolha individual. Barreiras estruturais, como falta de segurança, ausência de espaços públicos adequados e desigualdades no acesso a oportunidades de lazer, limitam a prática de atividade física para grande parte da população. Nesse sentido, políticas públicas devem assumir um papel central na promoção da atividade física, ampliando o acesso a ambientes seguros e de qualidade que incentivem um estilo de vida mais ativo. 

      CONCLUSÃO

     O objetivo dessa tese foi investigar as associações independentes, estratificadas e conjuntas entre o tempo em comportamento sedentário e os níveis de atividade física com fatores de risco cardiometabólicos e eventos cardiovasculares maiores em adultos e idosos brasileiros, utilizando dados observacionais de base populacional e evidências da literatura científica global. A partir disso, busca-se compreender como esses comportamentos interagem entre si, oferecendo subsídios para políticas públicas mais eficazes e contextualizadas em países de baixa e média renda, como o Brasil. 

     Os achados desta tese reforçam que o tempo em comportamento sedentário e a prática de atividade física são dimensões complementares — mas não intercambiáveis — na determinação do risco cardiovascular. Embora mover-se mais e sentar-se menos sejam recomendações válidas em qualquer parte do mundo, os dados aqui apresentados mostram que, no Brasil, tais comportamentos são moldados por barreiras estruturais que transcendem a vontade individual.  

     Praticar atividade física regularmente protege o coração, mas não neutraliza completamente os efeitos adversos de longos períodos sentado. O pior cenário para a saúde cardiovascular é justamente aquele que combina elevado tempo sentado com baixos níveis de movimento — realidade comum em regiões marcadas por desigualdades. Por outro lado, em alguns contextos, os efeitos do comportamento sedentário sobre os fatores de risco cardiometabólicos parecem ser atenuados ou mesmo inexistentes, sugerindo que a relação entre esses comportamentos e a saúde não é universal, mas depende fortemente do desfecho analisado, das condições locais e da metodologia empregada. 

     Assim, esta tese contribui para a construção de uma compreensão mais refinada e situada da relação entre atividade física, tempos sedentário e saúde no Brasil, ressaltando a urgência de políticas públicas que não apenas promovam a atividade física, mas que também enfrentem as raízes sociais e urbanas do comportamento sedentário. No fim das contas, saúde cardiovascular não é apenas uma questão de escolhas individuais — é uma questão de justiça social.

SEMINÁRIO DE PESQUISA - 29/04/2025

Tema: Efeito da desigualdade racial na associação entre fatores socioeconômicos e saúde bucal ao longo da vida 

Apresentação: Dra. Sarah Arangurem Karam

Local: Auditório B

 Hora: 14:00h