Dissertações- PPGEpi

Título:

Associação entre Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e biomarcadores inflamatórios avaliados aos 18 anos em participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004

Autor:

Ariane Frey Machado

E-mail:

Área de concentração:

Epidemiologia do Ciclo Vital

Orientador:

Luciana Tovo Rodrigues

Banca examinadora:

Prof. Dr. Gabriele Cordenonzi Ghisleni (UCPEL) e Profa. Dra. Iná da Silva dos Santos (PPGEPI)

Data da defesa:

18/02/2025

Arquivo:

Palavras-chave:

TDAH; Marcadores inflamatórios; Inflamação; Proteína Creativa; Albumina; Ácido úrico

Resumo:

Introdução: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento com prevalência estimada entre 6% e 10% em crianças e cerca de 4% em adultos. Caracteriza-se por sintomas como dificuldade em manter a atenção, hiperatividade e impulsividade. Diferenças na prevalência entre os sexos mostram que meninos têm aproximadamente o dobro de probabilidade de serem diagnosticados com TDAH em comparação às meninas. Evidências recentes destacam o papel central da inflamação no TDAH, com estudos associando disfunção imunológica, polimorfismos genéticos, exposições inflamatórias pré-natais e condições autoimunes ao desenvolvimento cerebral alterado. Marcadores inflamatórios sanguíneos, como proteína C reativa (PCR), ácido úrico (AU) e albumina (ALB), são ferramentas valiosas para identificar inflamações e auxiliar no diagnóstico e monitoramento de doenças. Esses marcadores biológicos, além disso, frequentemente apresentam associações com o sexo. Particularmente, análises longitudinais das trajetórias do TDAH e sua relação com marcadores inflamatórios são essenciais para compreender como o transtorno evolui e interage com os processos biológicos ao longo do tempo. Essas análises permitem distinguir características transitórias de manifestações crônicas, fornecendo insights importantes para intervenções mais precisas e eficazes. Objetivo: Este estudo testou a associação entre sintomas cumulativos de TDAH desde a infância até à adolescência e marcadores inflamatórios no sangue aos 18 anos. Também exploramos o papel moderador do sexo na associação em participantes da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004. Métodos: Foram analisados dados de 2.926 participantes. Os sintomas de TDAH foram avaliados aos 6, 11 e 15 anos de idade através do Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ) para a construção da trajetória. Foram medidos marcadores inflamatórios séricos – PCR, ALB e AU – aos 18 anos de idade. As associações e a interação com o sexo foram testadas através de uma análise linear múltipla. Resultados e Discussão: Foram identificadas interações significativas entre as trajetórias dos sintomas de hiperatividade/desatenção e o sexo para todos os marcadores inflamatórios analisados. As associações específicas relacionadas ao sexo entre o TDAH e a inflamação podem orientar abordagens mais personalizadas de tratamento. No sexo masculino, as trajetórias dos sintomas de hiperatividade/desatenção foram associadas aos níveis AU, sendo que a trajetória “sempre alta” mostrou uma associação com níveis mais elevados de AU. Em contrapartida, nenhuma associação significativa foi encontrada entre os níveis de AU e os sintomas em meninas. Além disso, não foram observadas associações estatisticamente significativas para PCR e ALB em ambos os sexos. Esses achados evidenciam um efeito de interação importante entre o sexo e os sintomas de hiperatividade/desatenção na associação com biomarcadores inflamatórios. Apesar de a literatura sobre interações específicas entre TDAH, sexo e níveis de PCR, ALB e AU ainda ser limitada, os resultados deste estudo são consistentes com pesquisas prévias. Estudos anteriores sugerem que níveis elevados de AU estão associados a traços de impulsividade, sendo uma característica comum em transtornos psiquiátricos com esse perfil. Conclusões: De forma geral, os dados reforçam o papel potencial do ácido úrico como biomarcador relevante no contexto do TDAH, especialmente em relação a traços de hiperatividade e impulsividade. A associação específica ao sexo observada neste estudo destaca a importância de investigações futuras para aprofundar a compreensão da relação entre os níveis de AU e o TDAH em diferentes subgrupos populacionais.