Introdução: Eventos estressores (EE) são demandas ambientais de caráter subjetivo, podendo ser negativos, como eventos traumáticos ou conflitos. A exposição a EE na infância está associada, na vida adulta, a doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e transtornos de humor. Uma das respostas metabólicas documentadas frente a um estressor é a desregulação do sistema inflamatório. Temse avaliado se os níveis de biomarcadores inflamatórios circulantes, como Proteína C Reativa (PCR) e Interleucina-6 (IL-6), relacionam-se a esses eventos e ao desenvolvimento de (co)morbidades. Dentre as lacunas importantes nessa área, destaca-se o período de latência entre a exposição e o aumento dos níveis desses biomarcadores. Objetivo: Investigar a associação entre exposição a EE e níveis de PR e IL-6 aos 18 e 22 anos de idade. Métodos: Foram incluídos todos os participantes da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas, RS, com dados completos de exposição e desfechos (N=2.871 aos 18 anos e N=2.444 aos 22 anos). A exposição foi avaliada como variável categórica de número de eventos (nenhum; 1 EE; 2 EE ou mais) e em seis grupos de EE aos 18 anos e oito aos 22 anos. Aos 18 anos os grupos incluíram: problemas financeiros, abuso físico, disfunção do lar, morte, mudança indesejada de casa/bairro e problemas nas relações. Aos 22 anos, adicionaram-se abuso sexual e discriminação. Foram aplicados modelos de regressão linear brutos e ajustados para covariáveis (sexo, raça/cor, renda familiar, história de exposição a EE e saúde mental, índice de massa corporal, tabagismo e uso de álcool), analisando associações transversais e longitudinais, e realizando teste de interação para avaliar efeitos modificadores do sexo. Resultados: Após ajustes e na análise transversal: aos 18 anos, não foram observadas associações significativas; aos 22 anos a exposição a ³2 EE no último ano associou-se a menores níveis de PCR. Na análise longitudinal, problemas financeiros aos 18 anos associaram-se significativamente com maiores níveis de PCR aos 22 anos após ajuste. Na análise estratificada por sexo: entre os homens, aqueles expostos a um EE aos 22 anos apresentaram menores níveis de PCR e expostos a abuso físico aos 22 anos apresentaram maiores níveis de ambos os biomarcadores. Entre as mulheres, mudança indesejada aos 18 anos foi associada com maiores níveis de IL-6 na mesma idade; aos 22 anos, ser exposta a problemas nas relações associou-se com menores níveis de PCR; e ter problemas financeiros aos 18 anos com maiores níveis de IL-6 aos 22 anos. Os resultados indicam que o impacto de EE na inflamação variam conforme o tipo de evento, a fase da vida e o sexo, possivelmente devido a diferenças em mecanismos psicobiológicos. Conclusão: Estudos futuros podem investigar os mecanismos biológicos que conectam EE a biomarcadores inflamatórios; incluir medições longitudinais para identificar padrões de latência não detectados; e incorporar marcadores adicionais (ex.: cortisol) e variáveis contextuais (como apoio social) para compreender interações complexas entre EE e saúde ao longo do tempo.