As desigualdades sociais no Brasil têm raízes históricas profundas e impactam diversos aspectos da vida, incluindo a saúde da população. O acesso à prática de atividade física (AF) de lazer também reflete essas disparidades, sendo influenciado por marcadores sociais como sexo, raça/cor e nível socioeconômico. A interação entre esses marcadores pode intensificar as desigualdades na prática de AF de lazer, tornando fundamental a adoção da abordagem interseccional. Este estudo teve como objetivo descrever as desigualdades demográficas, socioeconômicas e interseccionais relacionadas aos diferentes tipos AF de lazer na adolescência e início da vida adulta, utilizando dados da Coorte de Nascimentos de 1993 de Pelotas, dos acompanhamentos dos 15 e 22 anos. Os tipos de AF de lazer foram avaliados por meio de um questionário contendo uma lista de atividades e classificados como: práticas coletivas, práticas individuais e atividades de academia. Futebol e caminhada também foram analisados separadamente. Os marcadores sociais da diferença foram analisados individualmente e de forma interseccional, considerando sexo, raça/cor e índice de riqueza. Para isso, foram utilizadas medidas de desigualdade relativas e absolutas, incluindo diferenças, razões, Slope Index of Inequality (SII) e Concentration Index (CIX), para comparar os grupos. Resultados: O estudo incluiu 4.325 indivíduos aos 15 anos e 3.800 aos 22 anos. Entre os tipos de AF de lazer, apenas a caminhada aos 15 anos apresentou maior prevalência entre as mulheres (36,1% vs. 25,5%). Em ambas as idades, indivíduos negros tiveram maior participação em práticas coletivas (15 anos: 58,1% vs. 49,5%; 22 anos: 24,8% vs. 20,6%) e no futebol (15 anos: 46,1% vs. 37,6%; 22 anos: 22,8% vs. 18,3%). Além disso, indivíduos do quintil mais rico apresentaram menores prevalências nas práticas coletivas (Q5: 47,5% vs. Q2: 54,7%) e no futebol (Q5: 37,0% vs. Q1: 45,5%) aos 15 anos, porém, aos 22 anos, as menores prevalências foram encontradas entre os mais pobres. Na análise interseccional, homens, brancos, ricos apresentaram as maiores prevalências na maioria dos tipos de AF de lazer, quando comparados às mulheres, negras, do tercil mais pobre. As desigualdades relativas de gênero, raça/cor, índice de riqueza e interseccionalidade aumentaram ao longo do tempo para a maioria das atividades. Observou-se a existência de iniquidades significativas na prática dos diferentes tipos de AF de lazer que se acentuaram da adolescência para a vida adulta. Nossos achados podem contribuir para uma compreensão mais aprofundada dessas disparidades. Além disso, os resultados podem subsidiar o desenvolvimento de políticas públicas de saúde e lazer mais contextualizadas, voltadas para atender às necessidades das populações mais vulnerabilizadas.