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Teses e Dissertações


2016


Aluno:Janaína Calu Costa

Título: Discriminação de gênero na mortalidade de crianças em países de baixa e média renda

E-mail:calu.janaina@gmail.com

Área de concentração:Epidemiologia

Orientador:Cesar Gomes Victora

Banca examinadora:Stela Meneghel e Aluísio Barros

Data defesa:21/11/2016

Palavras-chave:

Introdução: A mortalidade de crianças menores de cinco anos reflete as condições de vida, assim como a cobertura e qualidade da assistência à saúde. Em condições naturais, espera-se que meninos morram mais do que meninas devido à sua maior fragilidade biológica. No entanto, a discriminação de gênero pode mudar essa relação. Objetivo: Comparar duas abordagens propostas na literatura para identificar países de baixa e média renda em que há excesso de mortes de meninas e explorar alguns de seus principais determinantes. Métodos: Foram utilizados dados de Pesquisas de Demografia e Saúde conduzidas em 60 países de baixa e média renda entre 2005 e 2014. A mortalidade de meninas observada nesses países foi comparada com valores esperados resultantes de duas abordagens distintas para estimar o excesso de mortes femininas. A abordagem “prescritiva” estipula um valor esperado baseado em dados históricos de mortalidade de populações selecionadas, em que a discriminação de gênero foi considerada baixa ou ausente. A abordagem “descritiva” é derivada de estimativas globais baseadas em todos os países com dados disponíveis, incluindo aqueles afetados por discriminação de gênero. Para avaliar a discriminação de gênero no acesso a cuidados médicos, foi calculada a proporção de crianças com condições comuns da infância (diarreia, febre, ou sintomas de pneumonia) que foram levadas a um profissional de saúde qualificado. Esse indicador foi estratificado por sexo, em nível nacional e por quintis de riqueza. Análises ecológicas foram realizadas para avaliar se o excesso de mortes de meninas e a busca por cuidado variaram conforme a região do mundo, a religião predominante, a renda nacional, a concentração de riqueza e três índices distintos de desigualdade de gênero. Resultados: Apesar de a magnitude de excesso de mortes femininas variar entre os dois modelos, os resultados em nível nacional estão fortemente correlacionados (r=0.989; p<0.001). O modelo prescritivo identificou um excesso significativo de mortes femininas em 20 países; o modelo descritivo identificou apenas um país. Os treze países com maiores valores de excesso de mortes femininas e os dez países com menores valores são os mesmos de acordo com ambos os modelos. No Sul da Ásia e Oriente Médio/Norte da África foram identificadas as maiores médias de excesso de mortalidade de meninas. Em relação à busca por cuidado, oito países foram identificados com diferenças significativas entre meninas e meninos e, em seis deles, as frequências foram menores entre as meninas. Quatro países foram identificados em ambas as análises de viés de gênero: Índia, Egito, Libéria e Iêmen. Observa-se que menor busca por cuidado para meninas tende a ser observada em países com maior concentração de renda (p=0.039) e predominância da religião muçulmana (p=0.006). Conclusão: Apesar das diferenças na magnitude das estimativas, ambos os modelos fornecem um ranking similar de países com excesso de mortes de meninas. Países nos quais foi identificado viés de gênero demandam atenção para que seja assegurado cuidado e proteção adequados às meninas.

Palavras-chave: discriminação de gênero; taxa de mortalidade de menores de cinco anos; equidade em saúde; inquéritos de demografia e saúde.


ABSTRACT


Introduction: Mortality of children under five years reflects the living conditions as well as the coverage and quality of health care. Under natural conditions, it is expected that boys would die more than girls due their greater biological frailty. However, gender discrimination can change this relationship. Objective: To compare two approaches proposed in the literature to identify low- and middle-income countries where there is excess mortality of girls and explore some of its main determinants. Methods: We used data from Demographic and Health Surveys conducted in 60 low- and middle-income countries between 2005 and 2014. The mortality of girls observed in these countries was compared to expected values resulting from two distinct approaches to estimate the excess female mortality. The “prescriptive” approach provides an expected value based on historical mortality data from selected populations where gender discrimination was considered low or absent. The “descriptive” approach is derived from global estimates based on all countries with available data, including those affected by gender discrimination. To assess gender discrimination regarding access to healthcare, it was calculated the proportion of children with common childhood conditions (diarrhea, fever, or symptoms of pneumonia) who were taken to an appropriate healthcare provider. This indicator was stratified by sex at the national level and by wealth quintiles. Ecological analyses were performed to assess whether the excess mortality of girls and the health careseeking varied according to region of the world, the predominant religion, the national income, the wealth concentration and three different indices of gender inequality. Results: Although the magnitude of excess female mortality varies between the two models, the results at the national level were strongly correlated (r = 0.989; p <0.001). The “prescriptive” approach identified a significant excess female mortality in 20 countries; the descriptive model identified only one country. The thirteen countries with the highest excess of female mortality and the ten countries with lower values were the same for both models. The highest averages of excess female mortality were identified in South Asia and Middle East & North Africa. Regarding careseeking, eight countries
were identified with significant differences between girls and boys, and among six of them, the frequencies were lower among girls. Four countries were identified in both gender bias analyses: India, Egypt, Liberia and Yemen. Furthermore, lower careseeking for girls tended to be more common in countries with high income concentration (p=0.039), and predominance of the Muslim religion (p=0.006). Conclusion: Despite the differences in the magnitude of the estimates, both models provide a similar ranking of countries with excess mortality of girls. Countries in which was identified gender bias require attention to be assured proper care and protection of girls.

Key-words: gender discrimination; under-five mortality rate; health equity; demographic and health surveys.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas