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Sala de Imprensa

16/06/2023

Defesa de tese

Título: Uso de antibacterianos no período gestacional

Banca:  Profª. Drª Ana Menezes, Profª. Drª.  Mariângela Silveira e Profª. Drª. Noemia Urruth Leão (UnB).

Orientador: Profª. Drª. Andréa Dâmaso

 

Estudo aponta redução no uso de antibacterianos por gestantes após regulamentação

Impacto da política de controle dos antibacterianos tem resultados variáveis entre estratos socioeconômicos e de acordo com a quantidade de consultas pré-natais

Um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas revelou que o uso de antibacterianos por gestantes teve uma redução significativa após a implementação da lei que proíbe a comercialização desses medicamentos sem receita médica. Os resultados mostram que houve uma diminuição de 2,7 pontos percentuais no número de mulheres que fizeram uso de antibacterianos durante a gestação, entre as coortes de nascimentos de Pelotas dos anos de 2004 e 2015. Além disso, a proporção de medicamentos antibacterianos em relação ao total de medicamentos utilizados pelas gestantes caiu de 20,6% para 12,6% no mesmo período.

“A prevalência reduzida no uso de antibacterianos reflete provavelmente o progresso alcançado com a política de regulamentação desses medicamentos”, afirma Fernando Guimarães, autor do estudo desenvolvido em trabalho de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, sob orientação da farmacêutica e docente do programa Andréa Dâmaso.

No entanto, o estudo também revela que a diminuição no uso de antibacterianos afetou especialmente as gestantes mais pobres e aquelas que realizaram menos consultas pré-natais. Entre as gestantes que relataram ter tido alguma infecção durante a gestação, a queda no uso de antibacterianos foi maior no grupo de menor renda, chegando a quase dez pontos percentuais de diferença entre as coortes de 2004 e 2015.

De acordo com os dados, as infecções do trato urinário foram as mais comuns durante a gestação, afetando 37% das gestantes em 2004 e 45% em 2015. A falta de tratamento adequado para essas infecções pode levar a complicações gestacionais graves, como pielonefrite aguda, parto prematuro, aborto e septicemia. Portanto, é preocupante observar que, em 2015, apesar do aumento no número de infecções relatadas pelas gestantes, houve uma diminuição no uso de antibacterianos em comparação com 2004.

Os pesquisadores ressaltam que a regulamentação trouxe benefícios ao reduzir o uso indiscriminado de antibacterianos, mas também gerou dificuldades de acesso a esses medicamentos, especialmente para as gestantes em situação de vulnerabilidade social e com menor acesso à assistência médica. "Apesar dos avanços, é importante destacar que a regulamentação pode ter dificultado o acesso a antibacterianos entre as gestantes mais pobres, que geralmente realizam menos consultas pré-natais. Nosso estudo aponta tanto para um indicativo de sucesso da política de regulamentação quanto para evidências de prejuízo às mulheres em situação de vulnerabilidade", explica Guimarães.

O estudo também investigou a possível associação entre o uso de antibacterianos pela mãe durante a gravidez e o desenvolvimento de asma na infância. No entanto, os resultados não apresentaram evidências conclusivas nessa relação. Embora não tenha sido possível estabelecer uma conexão definitiva entre o uso de antibacterianos na gravidez e a asma infantil, os pesquisadores identificaram indícios de maior risco de desenvolvimento de asma até os quatro anos de idade em um subgrupo de crianças que não receberam antibacterianos no período pós-natal, mas cujas mães fizeram uso desses medicamentos durante a gestação. Essa relação sugere a existência da "hipótese da higiene", segundo a qual crianças não expostas a antibacterianos podem ter uma suscetibilidade aumentada ao desenvolvimento de asma e outras doenças alérgicas.

O estudo ressalta a importância de produzir dados sobre o uso de antibacterianos por gestantes em países de baixa e média renda, uma vez que a maior parte das informações disponíveis atualmente provém de países de alta renda. Além disso, ainda persistem dificuldades no acesso e disponibilidade de dados sobre o uso desses medicamentos na população em geral.

O trabalho desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas fornece insights valiosos sobre o uso de antibacterianos por gestantes e seus possíveis impactos na saúde materna e infantil. Garantir o acesso adequado a antibacterianos para mulheres que deles necessitam é fundamental para prevenir e tratar infecções durante a gestação, evitando complicações graves.

 

“É necessário um equilíbrio entre a regulamentação para evitar o uso indevido e a garantia de acesso apropriado a esses medicamentos, especialmente para as gestantes em situação de vulnerabilidade”, conclui o pesquisador.


Auditório Prédio B e zoom - DATA:16/06/2023 - HORA:09:00hs

Apresentador: Fernando Silva Guimarães





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