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Sala de Imprensa

15/02/2023

Defesa de Dissertação

 Título: Relationship between social information processing and aggressiveness in 4-year-old children in the 2015 birth cohort in Pelotas/RS.

Orientador: Prof. Dr. Joseph Murray

Banca: Prof.ª Dr.ª Sarah Halligan (University of Bath) e Prof. Dr. Tiago Munhoz (PPGEPI/UFPEL)

Em crianças pequenas, comportamentos agressivos tais como bater, morder e chutar, podem ser considerados naturais. Porém, espera-se que, à medida que a criança melhore sua socialização e aprenda normas de convívio, ela adquira estratégias pró-sociais para lidar com os outros. Se isso não acontece, problemas persistentes de agressividade podem desenvolver violência mais severa no futuro – que é um problema de saúde pública crônico e mundialmente conhecido. Tendo em vista que crianças as quais processam informações sociais de forma desajustada podem ser mais agressivas e manter níveis de violência altos em idades avançadas, a aluna de mestrado Luciana Perrone, sob orientação do Professor Joseph Murray, se aprofundou no tema.

A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas e contou com os dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2015. O objetivo do estudo foi investigar a relação entre a forma que a criança processa a informação social e a agressividade mostrada por ela, aos 4 anos de idade. Algumas crianças, mesmo frente a uma situação desagradável como ser impedida de brincar por um colega, utilizam estratégias competentes para enfrentar este conflito, como chamar a professora, os pais, ou pedir “por favor”. Enquanto isso, outras crianças podem processar esta situação social de forma menos competente, batendo no colega, jogando o brinquedo fora ou apenas chorando.

Segundo autores experts na teoria de processamento da informação social (social information processing – SIP), Crick & Dodge, para escolher seu comportamento frente a uma interação social, o cérebro da criança passa por uma série de etapas até determinar a melhor forma de agir frente a tal situação. Para avaliar o processamento da informação social infantil o estudo avaliou três dessas etapas. A primeira delas foi a atribuição de hostilidade ao outro, ou seja, achar que quem lhe prejudicou é mau, mesmo quando isso não podia ser determinado com certeza. A segunda etapa avaliada foi a geração de respostas agressivas, ou seja, a criança gerava verbalmente respostas agressivas quando lhe era perguntado sobre o que faria na situação dada. Na terceira etapa estudada, a criança avaliava como positivos ou não possíveis comportamentos. Levando-se em consideração os resultados do teste, observou-se que, quanto menos hostilidade a criança atribui aos outros, menos respostas agressivas ela gera e melhor sua avaliação de respostas (i. e. avalia adequadamente respostas competentes como boas e respostas agressivas e ineptas como ruins), mais competente é o SIP infantil.     

Em nosso estudo, após considerarmos questões sociodemográficas, comunitárias, familiares e individuais nas análises estatísticas, a relação entre SIP infantil e agressividade deixou de existir. Isso quer dizer que não existe efeito causal entre os aspectos do processamento de informação social sobre o comportamento agressivo da criança. Ao invés disso, tanto o pior processamento de informação social quanto a maior agressividade infantil se associam com outras condições de vida da criança, tais como menor renda familiar, maior violência no bairro, presença de depressão materna, pior desenvolvimento da linguagem, entre outros.

 

Destaca-se que este é um dos maiores estudos no mundo sobre o tema, com 3707 participantes, e o primeiro conhecido em países de baixa e média renda. A agressividade infantil é claramente um comportamento complexo, com múltiplos determinantes biopsicossociais e é possível que os mecanismos que mantenham o padrão comportamental agressivo sejam diferentes entre diferentes países. Porém, nossos dados apontam que, no contexto brasileiro, os efeitos de outros determinantes modificáveis precisam ser identificados para o direcionamento em intervenções preventivas precoces.  

 


Auditório B (Híbrido) - DATA:15/02/2023 - HORA:10:00hs

Apresentador: Luciana Perrone





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Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas