Facebook

Sala de Imprensa

13/01/2017

Pedro Curi Hallal inicia gestão à frente da reitoria da UFPel

Aos 36 anos, o epidemiologista Pedro Curi Hallal, recém-empossado reitor da Universidade Federal de Pelotas, chega à reitoria com uma trajetória incomum para a idade.  

Pedrinho, como é conhecido entre amigos e colegas, foi o primeiro aluno da Escola Superior de Educação Física da UFPel a ingressar no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, onde obteve os títulos de mestre e doutor. O desempenho ao longo do curso lhe rendeu uma distinção do programa, que concentra cinco dos dez pesquisadores de maior produção científica em saúde coletiva no Brasil. 

Ainda aluno do doutorado, chamou a atenção de especialistas do Ministério da Saúde em reunião para a promoção da atividade física no país. Enquanto todos discutiam a melhor estratégia publicitária, Hallal sugeriu um ajuste de rumo. Um pouco menos de propaganda – quem ainda não sabe que fazer atividade física é bom para a saúde? – e mais investimento em oportunidade e infraestrutura para a prática. Anos depois, era o responsável por avaliar os resultados do projeto federal “Academia da Saúde”, que disponibiliza academias públicas ao ar livre para a população nas cidades. 

Aos 28 anos, tornou-se o pesquisador mais jovem a ser contemplado com afiliação à Academia Brasileira de Ciências. Ajudou a fundar a Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde. À frente da Coorte de Nascimentos de 2015 em Pelotas, foi o único brasileiro a conquistar uma bolsa de pesquisa pela agência The Welllcome Trust, da Grã-Bretanha, aos 31 anos, tendo sido o único não-britânico a obter o recurso. Em quase 15 anos de atividade em pesquisa, obteve reconhecimento internacional, sendo o pesquisador mais produtivo da área de atividade física e saúde pública do país. 

Há dois anos, apostou na possibilidade de atuar de uma nova forma na UFPel. Hoje, é o mais jovem reitor em exercício nas universidades federais brasileiras:

 

Aos 36 anos, você é o cientista mais produtivo na área de atividade física e saúde coletiva do país, com reconhecimento científico internacional consolidado. Você teria tudo para seguir dedicando-se à carreira em pesquisa com projeção ainda mais promissora a longo prazo. O que o motivou a dar essa guinada em direção à gestão pública e como você se preparou para essa mudança de atividade? 

A vida é feita de desafios, e sempre busquei realizar as atividades nas quais eu mais me sentisse útil para a comunidade. No ano de 2015, ficou claro que a Universidade Federal de Pelotas precisava de uma mudança urgente de trajetória. Para isso, constituímos um grupo diferente de tudo que já se viu na história da UFPel. Criamos um grupo plural, heterogêneo, e não um projeto de poder. Depois de meses de discussão, esse grupo escolheu o meu nome para representá-lo no processo eleitoral. Eu não poderia, de maneira alguma, fugir da responsabilidade e, por isso, aceitei o enorme desafio de concorrer ao cargo de reitor. A partir da escolha do meu nome, fiz uma mudança radical em minha vida. Fui me desvinculando das atividades de orientação e pesquisa e me preparando para (a) o processo eleitoral; (b) a gestão pública. Estou vendo esse momento como uma analogia pura e simples de um controle remoto: estou apertando PAUSE na vida acadêmica para me dedicar à gestão. Depois de alguns anos, desejo voltar para o mundo acadêmico, mas numa Universidade muito diferente daquela que recebo hoje.

 

Qual deverá ser a primeira medida de sua gestão ao assumir a reitoria? 

Nossa primeira medida já foi tomada antes mesmo de assumirmos. Disparamos um processo de negociação com a Universidade Católica de Pelotas para resolver um dos problemas mais graves de nossa instituição, que é o espaço físico. O processo, inédito na história da UFPel, contou com a colaboração da gestão em exercício e da gestão eleita, e culminou no aluguel do prédio do Campus II da Católica, como é conhecido aqui na cidade. Além disso, começamos a buscar em caráter emergencial alternativas para a moradia estudantil que existe atualmente, que submete nossos alunos/as mais carentes a condições insalubres de moradia. Estaremos também realizando em janeiro um mutirão de qualificação dos espaços mais nobres de uma Universidade: as salas de aula.

 

Na sua opinião, quais devem ser os principais desafios para a nova gestão em relação às três frentes - acadêmica, institucional e de relações interpessoais - na UFPel? 

 No âmbito acadêmico, nossa principal meta é qualificar os cursos de graduação e pós-graduação existentes na Universidade. De uns tempos para cá, houve um equívoco coletivo de mensurar ganhos em educação apenas em termos de quantidade, sem preocupação com a qualidade. Queremos que os cursos de graduação melhorem seus conceitos junto ao Ministério da Educação, mas mais importante do que isso, melhorem a formação de nossos/as alunos/as. Trabalharemos para que os nossos cursos de pós-graduação aumentem seus conceitos junto a CAPES, e melhorem a formação dos/as estudantes. Talvez mais importante do que isso tudo seja mudar a cultura da UFPel, que sempre priorizou as atividades meio e jamais as atividades fins, de ensino, pesquisa e extensão. Na esfera institucional, criaremos um Conselho de Planejamento, para que as decisões sobre o futuro da UFPel pertençam a comunidade da UFPel, e não a gestão em exercício. Criaremos espaços administrativos nas unidades acadêmicas, priorizando as atividades fins da Universidade. Promoveremos a democracia como pilar essencial de gestão, retirando o direito a voto dos pró-reitores no conselho universitário. Nas relações pessoais, reside nosso maior desafio. Recebemos uma Universidade que manteve por mais de 20 anos um modelo de polarização baseado no “nós vs. eles”. Em alguns espaços da UFPel, servidores foram constrangidos durante o processo eleitoral até a retirarem seus bottons. Colegas foram desligados de funções por identificarem-se com outros grupos políticos. Nesse ambiente, fica muito difícil que as relações pessoais sejam alegres. Trabalharemos com base na cultura do encontro, qualificando espaços de convivência. Investiremos nas pessoas, e não nos lugares, mas em todas as pessoas, e não apenas nas que nos apoiaram.

 

Quando ainda era governo interino, a presidência de Michel Temer realizou a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) ao das Comunicações, já antecedida de cortes no orçamento, interrupção e/ou congelamento de programas. Em meio ao cenário de crise, quais as principais alternativas para manter o nível dos programas de excelência e promover a produção científica na UFPel?

 É fundamental que os gestores hoje nos governos, federal, estadual e municipal, sejam sensibilizados quanto à importância da Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento do país. Sem investimento em ciência, tecnologia e inovação, no médio e longo prazo, o país será dependente de tecnologias externas e desperdiçará a oportunidade única de investir na sua própria população. Atuaremos de forma independente e respeitosa pela garantia da Universidade pública, 100% gratuita, de qualidade e socialmente referenciada no Brasil.

 

A pesquisa científica traz benefícios concretos para a população. No entanto, o cidadão que não está diretamente ligado à rotina universitária pode ter a impressão de que sua vida não é afetada pelo que ocorre na universidade. Como melhorar a aproximação entre universidade e sociedade?

 A comunicação precisa ser aprimorada. A simples divulgação dos resultados científicos para a comunidade por meio de publicações em periódicos científicos não atinge a população. Precisamos que os resultados de pesquisa sejam socializados com a comunidade numa linguagem popular. As coordenadorias de Comunicação Social das Universidades devem priorizar a divulgação do ensino, pesquisa e extensão, e não as ações de gestão.

 

Após a sua eleição para a reitoria, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal aprovaram a controversa proposta de emenda constitucional que cria um teto para os gastos públicos, a PEC 541 ou PEC 55, com impacto sobre investimentos públicos em saúde e educação. Como você e sua equipe de planejamento reagiram a esse novo quadro?

 Foi um erro aprovar a PEC do Teto de Gastos no formato que foi redigida. A responsabilidade com os gastos públicos é obrigação de qualquer gestor e de qualquer governo. No entanto, faltou análise de cenário, ao invés de aplicação de uma métrica única para as diferentes áreas. Restringir investimentos em educação num país onde uma parcela grande da população não atinge o ensino superior é equivocado. Nossa briga não pode ser apenas para manter os investimentos em educação pública; temos que lutar para que os investimentos em educação pública aumentem. Na área da saúde, o cenário é igualmente preocupante. Com o envelhecimento populacional que o país vem enfrentando, os investimentos no Sistema Único de Saúde devem ser crescentes, e não congelados.

 

A chapa Uma UFPel diferente, em várias ocasiões, frisou a importância de “não perder a capacidade de se indignar e sonhar”.  Qual a sua principal indignação em relação à realidade atual na UFPel?

 A forma como nossos/as alunos/as são tratados. As salas de aula têm condições péssimas. As bibliotecas têm carência de livros, de servidores e os horários são insuficientes. Nos laboratórios, há escassez de produtos, equipamentos e especialmente de servidores. As condições de assistência estudantil são precárias – os/as alunos/as que mais precisam da Universidade não estão recebendo o tratamento que merecem.

E o principal sonho?

Resolver esses problemas e entregar uma Universidade mais humana e mais democrática para uma gestão futura. Entregar uma Universidade com uma moradia estudantil digna. Entregar uma Universidade onde os futuros reitores não sejam sobre-empoderados e não tenham comportamento de super-heróis. Entregar uma Universidade verdadeiramente conectada com a comunidade.

 




Fonte: Assessoria de Imprensa





Voltar

Veja Também


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas