Um em cada doze moradores da zona rural de Pelotas consome bebidas de álcool em quantidades que representam risco para a saúde. É o que mostra estudo inédito da Universidade Federal de Pelotas, que investigou o consumo de bebidas alcoólicas entre pessoas de 18 anos de idade ou mais nos oito distritos da zona rural do município.
“São raros os estudos sobre o consumo de bebidas alcoólicas exclusivamente em populações rurais. O consumo exagerado, de risco, está ligado a doenças como cirrose, pancreatite e câncer. Nossa pesquisa investiga o hábito pela primeira vez na zona rural de Pelotas, preenchendo essa lacuna e atendendo à sugestão de lideranças comunitárias da região”, afirma o médico psiquiata Gustavo Pêgas Jaeger, autor do trabalho de dissertação sobre o tema, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, sob orientação da professora Mariângela Freitas da Silveira.
A coleta dos dados integrou o inquérito da Pesquisa sobre a Saúde da População Rural de Pelotas, realizada pelo curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel. Entre janeiro e junho de 2016, o estudo entrevistou 1519 moradores da zona rural na faixa etária a partir dos 18 anos. Os participantes responderam a questões sobre a frequência e a quantidade do consumo de bebidas alcoólicas e sobre a preocupação de médico, familiares ou amigos em relação ao hábito do entrevistado. De acordo com as respostas, os participantes somaram de 1 a 40 pontos, com o escore de oito pontos para classificação de consumo de risco de álcool. “Esse escore sinaliza o consumo de bebidas de álcool que começa a gerar danos à saúde de quem bebe: uma agressão pequena ao fígado, uma gastrite, um risco maior de se envolver em acidentes de qualquer tipo, de assumir comportamento violento”, explica Jaeger.
Os resultados apontam 8,4% de pessoas com consumo de risco de álcool na população rural. A prevalência é maior entre os homens, com proporção de oito homens para cada mulher com consumo de risco. Em relação à idade, quanto mais jovem, maior a propensão ao comportamento. O consumo de risco é mais frequente entre os jovens de 18 a 24 anos do que entre os adultos de 25 a 39 anos – nessas duas faixas etárias, é três vezes maior do que na faixa etária a partir dos 60 anos. Os dados também revelam maiores prevalências entre os que vivem sem companheiro, experimentaram o álcool antes dos 18 anos e são tabagistas. Além disso, os índices de consumo de risco tenderam a ser menores entre os praticantes de religião evangélica.
“O senso comum propaga que o consumo de bebidas de álcool é alto na zona rural, mas nosso estudo quantifica isso, apresenta dados concretos sobre a questão. Quase uma em cada dez pessoas tem problemas com álcool nessa população, e os dados despertam preocupação com o maior número entre os mais jovens. Os resultados fornecem subsídios para o planejamento de políticas na região, apontando para estratégias de prevenção do início precoce, antes dos 18 anos, e para intervenções dirigidas em especial ao público masculino”, conclui o autor.
Dissertação: Prevalência de Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool e Fatores associados entre Adultos da Zona Rural de uma cidade de médio porte do Sul do Brasil: estudo de base populacional
Autor: Gustavo Pêgas Jaeger
Orientador(a): Mariângela Silveira
Coorientador(a): Christian Loret de Mola
Fonte: Assessoria de Imprensa