Facebook

Teses e Dissertações


2016


Aluno:Bianca Del Ponte da Silva

Título: Consumo materno de cafeína durante a gestação, consumo de açúcar pela criança e Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) aos seis anos de idade

E-mail:bianca.delponte@gmail.com

Área de concentração:Epidemiologia do Ciclo Vital

Orientador:Iná da Silva dos Santos

Banca examinadora:Sandra Petresco, Helen Gonçalves e Juliana Vaz.

Data defesa:22/01/2016

Palavras-chave:Epidemiologia, TDAH, Coorte 2004

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por
sintomas persistentes de desatenção, impulsividade e hiperatividade. É um transtorno
neurobiológico que atinge cerca de 6% das crianças em idade escolar, sendo o mais prevalente
transtorno mental na infância e a principal causa da procura por serviços de saúde mental para
crianças e adolescentes.
O TDAH é uma doença multifatorial, com etiologia complexa e forte herdabilidade.
Fatores nutricionais, no período gestacional, têm sido investigados como determinantes de
TDAH, como por exemplo, ingestão de ácido fólico, ferro, omega-3 e cafeína. Efeitos de
exposições nutricionais na infância sobre TDAH também vêm sendo explorados. Os estudos
apontam para um efeito protetor da maior ingestão de ferro, zinco e ácidos graxos
poliinsaturados e, em contrapartida, um efeito adverso da maior ingestão de corantes,
conservantes e açúcar. No entanto, os achados são inconsistentes.
Tendo em vista a escassez de estudos sobre o consumo de cafeína na gestação e
TDAH e da inconsistência dos achados acerca do efeito do açúcar sobre o TDAH, esta tese
avaliou o efeito do consumo materno de cafeína durante a gestação e do consumo de açúcar
pela criança sobre o desenvolvimento de TDAH aos seis anos de idade, entre as crianças
pertencentes à Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004.
Os membros da Coorte foram avaliados ao nascimento, aos três meses e com um, dois,
quatro, seis e dez anos de idade. Ao nascimento foram obtidas informações sobre o consumo
materno de cafeína durante a gestação. Aos seis anos, o consumo alimentar da criança foi
avaliado por meio de questionário de frequência alimentar, que possibilitou avaliar o aporte
de sacarose presente nos alimentos. A presença de TDAH foi avaliada aos seis anos de idade,
por meio do questionário Development and Well-Being Assessment, aplicado às mães.
Um total de 3585 crianças foram incluídas nas análises sobre cafeína e 3240 nas
análises sobre sacarose. Os resultados mostraram uma prevalência de TDAH de
2,6% (IC95%: 2,1-3,2), sendo 3,4% (IC95%: 2,9-3,9) entre os meninos e 1,8% (IC95%: 1,4-
2,2) entre as meninas. A prevalência de alto consumo de cafeína (≥ 300 mg/dia) foi de 15,4%
(IC95%: 11,0-19,8), 19,2% (IC95%: 13,5-24,9), 17,9% (IC95%: 12,6-23,2) e 16,4% (IC95%:
11,6-21,2), durante toda a gestação e no primeiro, segundo e terceiro trimestres,
respectivamente. O consumo pesado de cafeína pela mãe, durante a gestação, não esteve
associado ao TDAH na análise bruta ou ajustada, tanto para meninos quanto para meninas. Já
o consumo de açúcar pela criança esteve associado ao TDAH entre meninos aos seis anos de
idade. O consumo médio de sacarose entre crianças com e sem TDAH foi 129,67 (73,72) e
108,49 (69,22) g/dia, respectivamente. Na análise bruta, os meninos no maior tercil de
consumo de sacarose por dia apresentaram uma chance 3,60 (IC95%: 1,72-7,52) vezes maior
de ter TDAH, quando comparados aos do menor tercil tomados como referência. Após ajuste
para confundidores, a associação permaneceu (RO: 2,67; IC95%: 1,22-5,85). Entre as
meninas não se observou associação, tanto na análise bruta (RO:1,40; IC95%:0,60-3,27)
quanto na ajustada (RO: 1,11; IC95%:0,41-2,99).
Em síntese este estudo revelou que o consumo materno de cafeína na gestação não
esteve associado ao TDAH. Por outro lado, o consumo de açúcar pela criança associou-se a
uma maior prevalência de TDAH, entre os meninos, aos seis anos de idade. Tais achados têm
grande importância em saúde pública uma vez que sugerem que o consumo de sacarose pode
ser um fator prevenível de TDAH na infância.


ABSTRACT


Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is a dysfunction characterized by
persistent symptoms of inattention, impulsivity and hyperactivity. With a worldwide
prevalence among school-aged children of nearly 6%, ADHD is the most prevalent mental
disorder in childhood and the main cause for mental health care seeking during childhood and
adolescence.
ADHD is a disease with complex multifactorial aetiology and a strong herdability.
Several epidemiological studies identified higher prevalence of ADHD among boys and in
children from low socio-economic families. The role of maternal nutrition during pregnancy
(folic acid, iron, omega-3, and caffeine intake) over the occurrence of ADHD at the offspring
has been investigated. Similarly, the role of nutritional exposures in childhood over the
development of ADHD has also been explored. Some of theses studies found that a higher
iron, zinc and polyunsaturated fatty acids intake has a protective effect, whereas a higher
consumption of food containing colorants and preservatives, as well as sugar, increase the risk
of ADHD. However the findings are still inconsistent.
Considering the scarcity of studies on the effect of maternal consumption of caffeine
during pregnancy and the lack of consistency of finding that investigated the effect of sugar,
this thesis was planned to assess the relationship between those characteristics and the
development of ADHD at six years of age among children from the Pelotas 2004 Birth
Cohort. The cohort participants were assessed at birth, at three months and at one, two, four,
six, and ten years of age. At birth we obtained information about maternal caffeine
consumption during pregnancy. At the six-year follow-up child food intake was assessed by
means of Food Frequency Questionnaire that allowed estimate the sugar intake from sweet
food sources. The presence of ADHD was assessed by the application of the Development
and Well-Being Assessment instrument that was answered by the mothers.
A total of 3585 children were included in the analyses of the effect of caffeine and
3240 in the analyses of the effect of sacarose. The general prevalence of ADHD was
2.6% (IC95%: 2.1-3.2). Among boys the prevalence was 3.4% (IC95%: 2.9-3.9) and among
girls 1.8% (IC95%: 1.4-2.2). The prevalence of heavy caffeine consumption (≥ 300 mg/day)
was 15.4% (IC95%: 11.0-19.8), 19.2% (IC95%: 13.5-24.9), 17.9% (IC95%: 12.6-23.2), and
16.4% (IC95%: 11.6-21.2), during the entire pregnancy and at the first, second and third
trimester of pregnancy, respectively. Heavy maternal caffeine consumption during pregnancy
was not associated with ADHD in crude or adjusted analysis. These results did not change
after stratification for child sex. On the other hand, sugar intake by the child at the age of six
years was associated with ADHD. The mean daily sugar intake among children with and
without ADHD was 129.67 (73.72) and 108.49 (69.22) grams, respectively. Boys in the
highest sugar intake percentile (121-525 g/day) had a chance 3.60 (95% CI: 1.72-7.52) fold
higher of presenting ADHD than those at the lowest intake percentile (5-71 g/day). This result
did not lose significance after controlling for confounders (OR: 2.67; 95% CI: 1.22-5.85).
Among the girls there was no association, both in the crude (OR: 1.40; 95% CI: 0.60-3.27)
and the adjusted analysis (OR: 1.11; 95% CI: 0.41-2.99).
In summary this study showed that maternal caffeine consumption in pregnancy was
not associate to ADHD whereas sugar intake by the boys at the age of six years was. These
findings have a huge importance to the field of public health because it suggests that sugar
may be a preventable factor for ADHD in childhood.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas