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Teses e Dissertações


2015


Aluno:Nadia Spada Fiori

Título: Asma, tabagismo e absorção de nicotina em fumicultores do município de São Lourenço do Sul, RS

E-mail:nsfiori@yahoo.com.br

Área de concentração:Epidemiologia

Orientador:Anaclaudia Gastal Fassa

Banca examinadora:Luiz Augusto Facchini, Ricardo Bica Noal e Guilherme Franco Nerto.

Data defesa:16/11/2015

Palavras-chave:fumicultura; asma; chiado; tabagismo; nicotina; cotinina; rural.

Introdução: O Brasil é o segundo maior produtor mundial de tabaco em folha
e o campeão em exportação de fumo. A produção nacional do tabaco está
concentrada na região sul do país, onde o estado do Rio Grande do Sul é
responsável por 50% desta produção. O cultivo do fumo, no Brasil, é
realizado por agricultores familiares de forma artesanal e rudimentar. O ciclo
de produção extende-se por todo o ano, iniciando com o preparo da terra, o
plantio das mudas, colheita da folha, secagem e, terminando com o
enfardamento para a venda. Durante estas etapas, o trabalhador está
exposto a diversas cargas de trabalho, sendo a carga química uma constante
fonte de exposição durante todo o processo de produção. O uso de
agrotóxicos e o contato com a nicotina, seja pelo manuseio da folha verde do
fumo ou inalando a poeira do fumo seco, são agressores do sistema
respiratório e expõe os trabalhadores a altas doses de nicotina. Ademais, os
censos nacionais mostram que há uma maior prevalência de tabagismo na
área rural, o que aumenta o risco de doenças respiratórias. A asma é uma
doença crônica comum das vias aéreas caracterizada por uma complexa
interação de obstrução ao fluxo aéreo, hiper-reatividade brônquica e
inflamação subjacente que desencadeiam episódios recorrentes de tosse,
chiado e falta de ar. A crise de asma incapacita o fumicultor para o trabalho,
uma vez que o cultivo do fumo exige grande esforço físico e expõe o
trabalhador a poeiras orgânicas e inorgânicas, exacerbadoras da asma. Sua
prevalência em trabalhadores rurais é variável, oscilando entre 2 e 10%,
devido a grande variabilidade de desfechos utilizados pelos estudos. Não
foram encontrados estudos sobre asma em agricultores plantadores de fumo,
são parcos os que descreveram a prevalência de tabagismo neste grupo de
trabalhadores e, em um número um pouco maior, os que aferiram os níveis
de cotinina durante o cultivo do fumo. Objetivos: Redigir três artigos
científicos: o primeiro para analisar a prevalência e os fatores associados à
asma entre os fumicultores, o segundo para investigar a prevalência de
tabagismo e seus fatores associados neste grupo de trabalhadores e o
terceiro busca realizar uma revisão sistemática sobre níveis de cotinina
urinária em fumicultores, durante a colheita da folha de fumo. Métodos: os
dois primeiros estudos utilizaram o banco de dados de um estudo de
delineamento transversal, realizado em 2469 fumicultores maiores de 18
anos, no município de São Lourenço do Sul, RS. Asma foi definida como
chiado no último ano, considerou-se tabagista aquele que fumava pelo
menos um cigarro por dia há mais de um mês. A revisão sistemática seguiu o
PRISMA guidelines e, buscando em divesas bases de dados, incluiu estudos
que apresentavam valores de cotinina urinária coletados no momento da colheita da folha do tabaco. Resultados: A prevalência de chiado no último
ano foi de 11,0% para ambos os sexos. Entre os homens, idade, tabagismo,
trabalho intenso, uso de pesticidas, contato com poeira vegetal e poeria do
fumo, carregar as varas de fumo para dentro dos galpões e doença da folha
verde no ano anterior ao estudo foram fatores de risco par asma. Entre as
mulheres, história familiar de asma, fazer manocas, trabalho intenso, contato
com desinfetantes químicos e doença da folha verde no ano anterior
estiveram positivamente associados com asma. A colheita da folha baixa de
fumo foi fator de proteção para asma em ambos os sexos. Tabagismo atual
foi referido por 31,2% dos homens e 3,1% das mulheres. Entre homens,
tabagismo associou-se diretamente à idade, escolaridade, renda, ser bebedor
pesado, tempo de trabalho na fumicultura e tempo de exposição a pesticidas.
Relação de trabalho foi um fator de risco para tabagismo e participar de
atividades religiosas um fator de proteção. A revisão sistemática apontou que
fumicultores apresentam valores de cotinina urinária superiores a população
não exposta, para ambos os sexos, em fumantes e não fumantes. Nos
estudos que coletaram a cotinina em diferentes momentos, houve um pico da
substância no período entre 24 e 37 horas após o início da colheita do fumo.
Fatores ocupacionais como o uso de equipamentos de proteção e a umidade
do ar no dia da colheita mostraram-se associados à absorção da nicotina.
Conclusão: A alta prevalência de tabagismo entre homens fumicultores, a
constatação de que estes trabalhadores absorvem elevadas quantidades de
nicotina nos diversos ambientes de trabalho e as diversas comorbidades que
afetam estes trabalhadores, como a asma, ressaltam a importância do Artigo
18 da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, que trata da proteção
ao meio ambiente e à saúde das pessoas, apontando a necessidade de
definir políticas públicas de proteção à saúde dos fumicultores. A produção
artesanal do tabaco expõe o trabalhador de forma intensa e constante à
nicotina, o que evidencia a necessidade de estudos sobre os efeitos da
exposição crônica à nicotina nestes trabalhadores.


Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - Centro de Pesquisas Epidemiológicas