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Sala de Imprensa

30/01/2019

Defesa de dissertação:Migração e repercussões na cobertura e desigualdades em intervenções de saúde materno-infantil: uma análise do Haiti e República Dominicana

Título: Migração e repercussões na cobertura e desigualdades em intervenções de saúde materno-infantil: uma análise do Haiti e República Dominicana

Banca: Bruno Nunes e Helen Gonçalves

Orientador: Fernando Wehrmeister

Local: Auditório Prédio B

Data:01/02/2019

Hora: 9h

Apresentador: Roberta Bouilly

 

 Estudo avalia impacto da migração sobre saúde de haitianas na República Dominicana

 Mulheres haitianas que migraram para a República Dominicana têm mais acesso a intervenções de saúde materno-infantil nesse país do que as que vivem em seu país de origem, aponta estudo realizado pelo Centro Internacional de Equidade em Saúde da Universidade Federal de Pelotas.

 A pesquisa avaliou o impacto da migração sobre indicadores de saúde materno-infantil em três populações de mulheres: imigrantes haitianas residentes na República Dominicana, haitianas residentes em seu país de origem e dominicanas residentes em seu país. A rota migratória do Haiti em direção à República Dominicana é considerada a mais importante entre os países caribenhos – em 2016, 88% dos imigrantes na República Dominicana eram haitianos.

 O estudo analisou nove indicadores de cobertura de intervenções em saúde: atendimento à demanda por planejamento familiar, número de consultas pré-natais, atendimento ao parto por profissional qualificado, vacinação de crianças, uso de soro de reidratação oral para diarreia, busca por cuidado em caso de suspeita de infecção respiratória aguda e um índice composto de cobertura de intervenções. Os dados foram obtidos de dois inquéritos nacionais: a Pesquisa de Indicadores Múltiplos Agrupados (MICS, na sigla em inglês), realizada em 2014, na República Dominicana, e a Pesquisa Demográfica e de Saúde (DHS, na sigla em inglês), realizada em 2012, no Haiti. A análise dos indicadores levou em consideração, ainda, as desigualdades de cobertura de acordo com o contexto socioeconômico e a área de residência urbana ou rural.

 Os resultados mostram que imigrantes haitianas obtiveram maior cobertura de intervenções de saúde materna e infantil em comparação com as haitianas não-migrantes, ao contrário do esperado em geral com base na literatura sobre o tema.

 “De maneira geral, a literatura aponta um efeito negativo da migração sobre a saúde. É comum o imigrante ter dificuldade com o idioma, sentir receio de ser mal atendido por questões de racismo ou xenofobia, ou não ter a documentação do país, o que frequentemente leva essas pessoas a buscar os serviços apenas em casos de emergência”, explica a médica Roberta Bouilly, autora do estudo desenvolvido em trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, sob orientação do epidemiologista Fernando Wehrmeister.

 Segundo os pesquisadores, uma das explicações plausíveis para o impacto positivo sobre a saúde das imigrantes pode estar relacionada ao fenômeno conhecido como “aculturação”,  segundo o qual imigrantes internalizam a cultura e os processos sociais do local onde estão residindo.

“Apesar de ser um país de rena baixa, a República Dominicana apresenta melhor estrutura de serviços de saúde e melhores indicadores sociodemográficos em geral, quando comparada ao Haiti. É um caso em que a migração pode afetar positivamente a cobertura de intervenções de saúde materna e infantil entre as mulheres e crianças migrantes”, acrescenta Bouilly.

 A pesquisa aponta que todos os indicadores de cobertura foram maiores para as imigrantes quando comparadas com as haitianas em seu país de origem, com exceção dos indicadores de imunização de crianças contra difteria, coqueluche e tétano (vacina DPT3), vacinação contra sarampo e terapia de hidratação oral contra diarreia.

 De acordo com os autores, a interpretação desses resultados deve levar em consideração o grande terremoto ocorrido no Haiti em 2010, o que agravou a dificuldade de acesso a serviços de saúde que demandam estrutura física mínima para contemplar a população, ao mesmo tempo que mobilizou ações de ajuda humanitária e maior afluxo de doações financeiras e de insumos médicos por parte de entidades não-governamentais ao país.

 “Essa possivelmente seja a explicação para a maior cobertura de vacinas e uso de sais de hidratação oral no Haiti, uma vez que estamos falando de intervenções que dispensam maior estrutura física e podem ser facilmente obtidas por esforços internacionais”, diz a pesquisadora.

 Em relação às desigualdades na cobertura de serviços, os níveis de cobertura foram maiores entre as mulheres mais ricas e moradoras das zonas urbanas em comparação com as mais pobres e moradoras das zonas rurais nos três grupos. As maiores desigualdades foram encontradas nas populações haitianas, quer sejam imigrantes ou residentes no Haiti, quando comparadas às dominicanas.

 A conclusão do estudo enfatiza que a cobertura de intervenções em saúde é maior para imigrantes, porém, ainda não atinge o mesmo patamar de cobertura para dominicanas.

 




Fonte: PPGE





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