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Sala de Imprensa

04/10/2017

Escolaridade prolongada reduz risco de doenças cardiovasculares, aponta estudo

Pessoas com maior escolaridade têm menos risco de desenvolver doenças cardiovasculares, aponta estudo publicado na edição de agosto do periódico científico The British Medical Journal, com a colaboração do acadêmico de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, Fernando Hartwig. 

De acordo com os autores do artigo, os resultados fornecem a mais contundente evidência já obtida de que maiores níveis de educação formal diminuem drasticamente o risco de desenvolvimento de doenças do coração.

Estudos prévios já haviam mostrado que pessoas mais escolarizadas apresentam menos risco de desenvolver doenças cardiovasculares. No entanto, esta relação poderia ser resultado de uma distorção por outros fatores relacionados tanto com escolaridade quanto com risco de doenças cardíacas, como tipo de dieta ou prática de atividades físicas.

Até o presente, não estava claro se a educação prolongada teria algum impacto sobre doenças cardíacas – em outras palavras, se aumentar o nível de escolaridade poderia contribuir na prevenção essas doenças. Por isso, uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Oxford, da Universidade de Londres e da Universidade de Lausanne realizou um estudo para esclarecer a natureza da associação entre grau de escolaridade e risco de doenças cardíacas.

Ao invés de coletar dados sobre o tempo que as pessoas passaram no sistema educacional, o estudo analisou 162 variantes genéticas comprovadamente associadas a um aumento de escolaridade, em um universo de mais de 540 mil pessoas, utilizando a técnica chamada de randomização mendeliana. O uso de informações genéticas com base nessa metodologia evita alguns dos problemas mais comuns dos estudos observacionais, tornando os resultados menos propensos a viés e, portanto, mais confiáveis para o entendimento da relação de causa e efeito.

Os autores encontraram que a predisposição genética para a escolaridade prolongada está associada à redução do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Mais especificamente, o aumento de 3,6 anos na escolaridade representou a redução de um terço no risco da doença.

Essa predisposição para a escolaridade prolongada também foi associada a menor propensão ao tabagismo, menor índice de massa corporal (IMC) e perfil lipídico sanguíneo mais saudável. De acordo com os autores, esses fatores podem explicar parcialmente a associação encontrada entre educação e doenças cardiovasculares. 

Sobre as limitações do trabalho de pesquisa, os autores afirmam que ainda não está completamente claro como as variantes genéticas causam mudanças na escolaridade, o que dificulta a interpretação de alguns dos resultados apresentados no estudo e pode introduzir fontes de erro difíceis de prever. Os principais pontos fortes incluem o grande número de pessoas que fizeram parte do estudo, o uso da randomização mendeliana para minimizar a confusão entre fatores e a consonância com os resultados de outros estudos. 

Com base neste estudo, os autores afirmam que “aumentar a escolaridade pode reduzir substancialmente o risco de desenvolver doenças cardiovasculares", sugerindo ainda que essas descobertas "devem estimular as discussões políticas sobre investimentos para aumentar o nível escolaridade da população em geral e melhorar a saúde das pessoas".

O editorial vinculado à publicação do artigo sugere que os autores fazem uma defesa convincente da relação causal entre educação e risco de doenças coronarianas. O pesquisador Brent Richards e colegas do Departamento de Medicina, Genética Humana, Epidemiologia e Bioestatística da Universidade McGill, no Canadá, afirmam que os resultados "são robustos frente aos testes de sensibilidade, que avaliam a possibilidade de viés nos resultados. Quando tomados em conjunto com outros estudos observacionais e quase-experimentais, suas conclusões são convincentes".

 

Artigo (The British Medical Journal)

Education and coronary heart disease: mendelian randomisation study

BMJ 2017; 358 doi: https://doi.org/10.1136/bmj.j3542 (Published 30 August 2017)

Autores:

Taavi Tillmann, Wellcome Trust fellow (joint first author), Julien Vaucher, physician and clinical research fellow (joint first author), Aysu Okbay, postdoctoral researcher, Hynek Pikhart, reader, Anne Peasey, senior teaching fellow, Ruzena Kubinova, director, Andrzej Pajak, professor, Abdonas Tamosiunas, professor, Sofia Malyutina, professor, Fernando Pires Hartwig, research associate, Krista Fischer, senior researcher, Giovanni Veronesi, statistician, Tom Palmer, lecturer, Jack Bowden, senior research fellow, George Davey Smith, professor, Martin Bobak, professor, Michael V Holmes, university research lecturer

Afiliação dos autores: http://www.bmj.com/content/358/bmj.j3542#

 

 




Fonte: Assessoria de Imprensa





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